Passado 2007, abre-se 2008. Pois bem. Afinal, o que esperar desse ano de Olimpíadas, fora as incontáveis reportagens sobre a super-ultra-mega potência do Oriente? Mais especificamente, o que esperar desse ano no meio futebolístico? Ainda mais objetivamente, o que esperar de 2008 no mundo industrial do futebol, que por fim é o assunto deste que lhe escreve?
Ah, feliz 2008, antes que eu me esqueça.
Mundialmente falando, pouco deve mudar. Grandes clubes e ligas ficarão ainda maiores, clubes menores e ligas menores continuarão no seu lento processo de enforcamento financeiro, rumando cada vez mais para o fundo do poço.
Na medida em que esse sistema vai se fortalecendo, os mercados vão ficando mais definidos. Os principais clubes e ligas da Europa irão continuar a afirmar o seu posicionamento como clubes globais, enquanto o resto do mundo servirá como fornecedor, consumidor, ou os dois de uma vez, que é o caso do Brasil.
O Brasil é o grande exportador de talento para o futebol mundial e nada indica que esse processo será freado em 2008. A não ser que algo de excepcional aconteça, ou que 2007 realmente tenha sido um ano ímpar, o número de jogadores que deixarão o país deve crescer ainda mais. Contribui para isso a recente abertura do mercado inglês para mais talento brasileiro, que ainda que possivelmente dê preferência ao jogador já estabelecido na Europa, pode motivar clubes ou ligas menores a contratar mais jogadores pensando na valorização financeira. Além disso, a consolidação de brasileiros nos principais clubes ingleses – Manchester United (Anderson), Liverpool (Lucas e Fábio Aurélio), Chelsea (Belletti e Alex), Arsenal (Gilberto Silva, Denílson e Eduardo da Silva) e, hmmm, Manchester City (Elano, Giovanni e, talvez, Fred e Mancini, entre outros) – pode motivar ainda mais clubes de ligas espectadoras a adquirir brasileiros, como China, Indonésia, Índia e Escandinávia. Além disso, a eleição de Kaká como melhor do ano também pode colaborar com o processo.
E se o mercado internacional cada vez mais demanda talento do Brasil, o mercado brasileiro também se estrutura para se adequar a essa demanda. Hoje, a assunção da transferência de jogadores como business é evidente não apenas nos clubes pequenos, mas também nos maiores clubes do país, que estabelecem mecanismos de investimento em jogadores que fortalecem o sistema de transferência e podem eventualmente serem revertidos em acréscimo de performance para os clubes.
E como clubes brasileiros não conseguem competir com o capital europeu pela manutenção de talentos, eles também fortalecem a prática do contrato temporário de recuperação, que se utiliza de jogadores não aproveitados lá para desempenhar por aqui. Fortalece o mercado no primeiro semestre, esvazia-o no segundo. 2008 tende a ser um exemplo disso. Se der certo, 2009 vai ser ainda mais.
Fora isso, pouca coisa deve mudar. A televisão digital e a tecnologia 3G não devem mudar o mercado de forma mais significativa ainda, e a internet não deve ser muito mais explorada do que ela foi ano passado. Os estádios continuarão iguais, e um ou outro acidente pode acontecer. A média de público do Campeonato Brasileiro deve continuar a depender da performance do Flamengo no ano. Se ele acabar no meio da tabela, a média deve ser baixa. Se ele acabar no topo ou no chão, a média deve ser alta.
Em termos de performance, assumindo que elas serão um reflexo das condições financeiras dos clubes, São Paulo, Palmeiras, Inter, Cruzeiro e Fluminense devem brigar pelos maiores títulos. Menos o Santos, que não deve mais contar com as reservas adquiridas com a excelente safra de 2002, que garantiu a performance até 2007. Se nada de excepcional acontecer, o Santos deve voltar a ser o clube que era antes de Robinho e sua turma aparecerem.
Ah, e o Corinthians deve ganhar a Série B. Fácil.
Quer dizer, acho que será fácil.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br