Ganhar o jogo ou jogar bem?

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O que significa jogar bem?
 
Muitos de nós, acostumados com os “jargões do futebol” responderia que jogar bem significa “jogar bonito”, “dar espetáculo”.

Rotineiramente é possível que nos deparemos com discussões em torno do tema. Seja para defender o “futebol espetáculo”, seja para alardear que o importante é ganhar o jogo e não jogar bonito, é comum que tais discussões sirvam de “camuflagem” para direcionar ou justificar direções tomadas que levaram a esse ou a aquele resultado em um jogo.

Tradicionalmente tomamos como sinônimo o “BEM” do jogar, com o “ESPETÁCULO” do futebol.

Façamos algumas reflexões.

Toda vez que é enunciada a palavra jogo, é comum que nosso pensamento seja remetido aos “jogos” que são assim chamados, porque assim popularmente são conhecidos. Sem que nos aprofundemos no tema, destaco que existem na Ciência áreas que estudam o “Jogo” como elemento complexo de um “complexo sistema” – transcendendo aquilo que é comumente tido ou conhecido como jogo.

O jogo, por ser jogo, é imprevisível. Ele possui uma lógica interna que lhe diz respeito. Dominar a lógica do jogo é um passo adiante no caminho da compreensão das variáveis que o envolvem.

Porém, temos aí um grande paradoxo, que repercute diretamente nas táticas e estratégias empregadas em partidas de futebol. Se dominar a lógica do jogo significa conhecer e dominar mais (e melhor) as variáveis do jogo, então quanto mais próximo do domínio de sua lógica e de suas variáveis, mais “previsível” estaria se tornando o próprio jogo. Como ele (o jogo) é imprevisível, aproximar-se da previsibilidade representaria distanciar-se do jogo.

Se as coisas fossem exatamente assim, transferindo ao futebol, seria como, se dominar as variáveis do jogo garantisse sempre a vitória, de tal forma que os resultados das partidas fossem “previsíveis” ao seu início.

Obviamente, o futebol é um jogo de grande complexidade e enorme número de variáveis interferentes. Buscar entender e dominar a lógica neste caso significa tentar controlar o maior número de variáveis possível (e controlar o maior número de variáveis possível não significa garantir a vitória no jogo).

A imprevisibilidade está no jogo. Portanto buscar a previsibilidade deve ser uma forma de torná-lo menos imprevisível, e não mais previsível.

Como o jogo não vai deixar de ser jogo, haverá sempre algo imponderável que garanta sua identidade. Então, no paradoxo que fora apontado anteriormente o erro está em acreditar que o domínio das variáveis e lógica do jogo o tornará previsível. Dominar as variáveis e lógica do jogo significa compreender a imprevisibilidade como elemento inerente ao jogo.

E aí, volto à questão inicial desse texto: o que significa jogar bem?

Diferente do que comumente se aponta, o significado do “jogar bem” deveria estar associado ao domínio das variáveis do jogo. Em outras palavras, o bom jogador é aquele que compreende o jogo, interage bem com ele, e assim joga bem.

Jogar bem, não é jogar bonito (ainda que uma coisa não elimine a outra). Jogar bem é dominar e compreender bem a lógica e as variáveis do jogo; e no caso de uma equipe de futebol isso deve ser ampliado ao contexto da equipe e não somente do jogador de forma individual.

No futebol, ter domínio sobre a lógica do jogo transcende o “eu jogador” e mergulha no “nós jogadores-equipe”.

Então, nessa perspectiva sobre o jogar bem, o grande apontamento é que “jogar bem não garantirá a vitória no jogo, porém maximizará as chances para que isso aconteça”.

Portanto, a antena dos treinadores e especialistas do futebol deve estar ligada e atenta a isso. Com raras exceções, é comum treinos técnico-táticos-físicos que caminham na direção errada. Ao invés de se buscar diminuir a imprevisibilidade, busca-se tornar o jogo previsível. Ao invés de se preparar atletas para entender o jogo, busca-se “programar” homens-máquinas (tutelados como sempre e cerceados do direito-dever de pensar).

E aí meus amigos, o de sempre. Alguns vão continuar perdendo sem saber porque perdem, fazendo “gambiarras” na direção errada. Outros vão continuar ganhando também sem saber porque (e quando perderem não saberão o que fazer).

Certo mesmo é que todos vão ter que abrir os olhos para perceber que alguns poucos ganham sempre. E que continuar acreditando que isso é sorte, é o mesmo que ficar sentado na poltrona da sala contando as horas para “o mundo passar”.

DIAGNÓSTICO

E para aqueles que acreditam na sorte e precisam abrir o olho, abram rápido para o trabalho realizado nas categorias de base do Figueirense.

Observando a média distância a equipe sub-17 e de longe a equipe que disputou a Copa São Paulo Jr em 2008 não tenho dúvidas: o trabalho que lá vem sendo realizado é diferenciado. E não se trata aqui apenas de títulos (isso é conseqüência). Falo aqui de observações e condutas em jogos (de jogadores e comissão técnica), e de comportamentos e estratégias (enfim, planejamento!).

Parabéns ao Figueirense.

E para aqueles que estão começando a abrir os olhos: olho no SUB-17 deles…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 
Leia também:
 

Entrevista com João Batista “Abelha”, superintendente técnico das categorias de base do Figueirense

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