Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.
Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.
Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.
O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.
No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).
Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.
Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…
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