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No final, deu a lógica. Dentro de campo, Palmeiras e São Paulo fizeram um jogaço, com grandes chances dos dois lados e vitória na bola. Sem polêmica de arbitragem, com emoção de sobra e vitória daquele que foi melhor no cômpito geral.
 
Fora de campo a lógica também prevaleceu. Inflamados a semana toda pela imprensa e pelos dirigentes remunerados de cada um dos clubes, o clássico decisivo foi cercado pelo amadorismo e hostilidade, incompatíveis com a profissionalização do futebol.
 
Spray de pimenta no olho dos outros é refresco. O que falaremos então sobre a luz “acabar” justamente quando o Palmeiras sacramenta sua vitória? Ou quando os dois times entram na proteção de um túnel para não sofrerem com a torcida?
 
Em 1942, Palmeiras e São Paulo decidiram o Paulistão. Na véspera da partida, o então Palestra Itália acabava de deixar de existi. Líder invicto do torneio, o clube era pressionado, principalmente pelos são-paulinos, a mudar de nome para não ser fechado, sob a acusação de ligação com o fascismo italiano. Pura balela, mas que obrigou o time da colônia a deixar de ser Itália. Naquele jogo, o Palmeiras ganhou na bola. Irritado com o árbitro que marcou um pênalti, o São Paulo decidiu abandonar o jogo, e o Palmeiras nasceu campeão.
 
Junto com ele nasceu uma das rivalidades mais estúpidas do futebol. Se, em 1942, poucos anos após o início do profissionalismo, já era ridículo um time abandonar o campo, o que diremos em 2008, com mais de um século de Campeonato Paulista, quando um time joga spray de pimenta no vestiário do visitante?
 
Já que os dirigentes não conseguem se profissionalizar, cabe à imprensa assumir a direção responsável. Mas parece que os jornalistas necessitam da superficialidade para fazer o seu trabalho. Vide o “caso Isabella”. A cobertura do julgamento do pai e da madastra da menina teve efetivo quase tão grande quanto o de policiais para o clássico paulista de domingo.
 
A troco de quê? Qual a necessidade de mostrar as pessoas entrando e saíndo da delegacia? Qual o impacto disso na vida dos outros? O máximo que se conseguiu foi atrair um bando de pessoas revoltadas para colocar em risco a vida de quem mais estivesse por lá.
 
As duas semanas que antecederam os jogos de Palmeiras e São Paulo foram marcadas por uma overdose de cobertura desnecessária dos jornalistas. Em vez de focar em quem jogaria ou como os times jogariam, a imprensa decidiu acirrar aquela rivalidade de 60 anos atrás.
 
E os dirigentes morderam a isca, fazendo de um dos jogos que mais marcou a volta do charme do Paulistão um festival de bobeiras e amadorismo completo. Se a imprensa não tivesse perdido tanto tempo com bobagens será que o espetáculo não teria sido outro?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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