Receita de bolo tática

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Nos últimos dez anos, muitas foram as equipes que adotaram em seu modelo de jogo estratégias defensivas orientadas por ocupações de espaço que tiveram como regra básica a presença de nove ou dez jogadores atrás da linha da bola (mais o goleiro).
 
Ainda que mereça uma ou outra restrição e que não proporcione jogo tão atrativo em determinados momentos, não se pode negar que algumas dessas equipes, empenhadas na excelente execução do seu modelo de jogo, alcançaram resultados mais do que satisfatórios em jogos e campeonatos importantes.
 
Organizar o sistema defensivo de uma equipe tendo como norte ter o maior número de jogadores participando efetivamente das estratégias de marcação, atrás da linha da bola, não é de todo uma tarefa das mais complicadas.
 
Num jogo de futebol, o momento de maior perigo defensivo para uma equipe ocorre justamente quando ela ataca. Isso pode ser facilmente entendido se considerarmos que quando uma equipe está a atacar a maior parte dos seus processos sistêmicos está voltada para a construção de uma jogada, e uma “parte menor” simultaneamente para garantir que se acontecer algo de errado, a meta defensiva não estará demasiadamente exposta (balanço defensivo).
 
Como o balanço defensivo é uma estrutura do sistema defensivo orientada ao mesmo tempo pela evolução da jogada ofensiva (construída pela própria equipe) e pela ocupação espacial dada pelos jogadores da equipe que se defende, as possibilidades de, ao se perder a bola, correr riscos defensivos importantes são grandes.
 
Então ao se buscar o ataque, a maior parte do foco estará voltada para isso; e a “parte do foco” voltada para o balanço defensivo é orientada por nortes dinâmicos que podem potencializar as chances de erro.
 
Pois bem. Se maiores são os riscos defensivos que uma equipe sofre quando ela está atacando, maiores serão as chances de conseguir êxito em um jogo se esse momento de risco puder ser mais bem aproveitado pela equipe que está se defendendo.
 
E é aí que o “marcar” com maior número de jogadores possível atrás da linha da bola se torna uma estratégia promissora: quanto mais jogadores, em um espaço reduzido (meio campo defensivo), menos brechas e corredores para penetração adversária. A dificuldade de penetração induz a uma previsível circulação de bola de um lado ao outro do campo de jogo. A maior circulação horizontal da bola desencadeia maior número de “zonas de interceptação”, e isso, um maior número de interceptações. Mais interceptações, com uma boa estratégia de transição ofensiva pode levar a ataques rápidos e promissores na retomada da posse de bola.
 
Então (pela enésima vez), se no futebol a defesa sobressai ao ataque, adotar como plano de ação defensivo básico um grande número de jogadores atrás da linha da bola pode ser um reforço pouco elaborado, porém aparentemente eficiente para o sistema de defesa.
 
A eficiência desse modelo de jogo ganha forças na medida em que no futebol há uma identificação positiva satisfatória entre “treinador de sucesso” e “treinador que arma bem as defesas de suas equipes”. Então, sem muitas elaborações, garantir uma defesa que sofre poucos ou nenhum gol pode ser um “marketing” eficiente para treinadores e suas equipes.
 
Com relação às transições ofensivas, também nada muito complicado. Onze defendem, recuperam a bola e quatro ou cinco saem rapidamente no contra-ataque. A jogada deve terminar em finalização. Se houver perda da bola, interrompe-se a jogada imediatamente (falta); a equipe se reequilibra defensivamente, e começa tudo de novo.
 
Você conhece alguma equipe que joga assim? Abra o olho…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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