A arte do discurso

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“Agora é o momento de especulações. Kaká, Ambrósio, Pedro ou Paulo. Agora é o momento”.

Em 40 minutos, os jornalistas ingleses puderam conhecer o estilo Felipão de ser. É o perfeito casamento. Na terra em que se pratica o jornalismo mais sensacionalista do mundo, está o mais carismático treinador de futebol dos últimos tempos.

É isso que espera Luiz Felipe Scolari em sua aventura inglesa. E serão com esses Pedros, Paulos e Ambrósios que os jornalistas terão de rebolar para conseguir tirar algo que não tenha sido milimetricamente calculado por Felipão em alguma entrevista ou “deslize” do treinador.

Sim, porque embora o passado revele entreveros de Felipão com a imprensa, o presente mostra a cada dia um treinador mais preparado para lidar com a pressão e muito mais consciente de que é um mal necessário à fama ter os jornalistas no seu encalço.

Quando li, em sites de todo o mundo, o relato do que havia sido a primeira entrevista coletiva de Felipão no Chelsea, senti aquela ponta de inveja. Inveja dos tempos em que ouvíamos e líamos Felipão com freqüência nos jornais, seja no Grêmio, Palmeiras, Cruzeiro ou seleção.

A habilidade de Felipão com as palavras tornou-se ainda maior nos tempos de Palmeiras, quando a imprensa paulistana caiu matando e teve de aturá-lo por três anos ganhando quase tudo o que tinha direito. Depois, os mineiros jogaram-se aos pés de Scolari, que em seguida calou a boca do país. Ou melhor, tirou o grito de pentacampeão mundial da garganta brasileira.

E, em seu primeiro dia na Inglaterra, Felipão se saiu com essa quando perguntaram se Kaká estava próximo de Stamford Bridge. Imaginei, na hora, como o tradutor para o inglês estaria se virando para falar “Peter, Paul and Ambrosio”, com o mais carregado dos sotaques para pronunciar uma palavra latina por excelência como Ambrósio.

Ledo engano. Felipão, já para ganhar a simpatia necessária, arranhou um inglês macarrônico para conquistar mais ainda a exigente imprensa britânica.

É o mesmo que amarrar cachorro com lingüiça. Ou, então, enfrentar Bambalas da vida. Na última semana, foi a vez de Felipão rechaçar qualquer rivalidade com Fabio Capello, o italiano que dirige a seleção inglesa. A pergunta, com a acidez costumeira dos britânicos, era sobre a não-classificação da Inglaterra para a Eurocopa. E a resposta? Bem, essa daí, mais felipônica impossível…

“Não sei o que aconteceu, porque não estava trabalhando com esses jogadores, não trabalho para a seleção inglesa. Mas eu gosto do time da Inglaterra e quero o melhor para ele, porque eu quero o melhor para Capello. Eu gosto muito dele, ele é um dos meus melhores amigos”.

Poderia ter parado por aí. Mas não, Felipão não é apenas politicamente correto. Se ele gosta, ele gosta. E faz questão de explicar o porquê.

“Ele me deu confiança quando comecei a jogar com três zagueiros e, no Brasil, queriam me matar. Eu o encontrei em Roma e ele disse: ‘siga sua idéia’. Eu disse: ‘eles querem me matar’. Ele retrucou: ‘não há problemas. Siga a sua idéia’. Eu gostei dele porque ele me deu confiança quando precisei”.

Mais Felipão impossível. E, com essas e outras, começa a hora de Scolari se transformar no Big Phill inglês, reconhecido e idolatrado por todos. A começar pela imprensa mais exigente do mundo…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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