Mourinho e as transições ofensivas

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Não é de hoje que escrevo sobre as transições (defensivas e ofensivas) no futebol. Não é de hoje também que alguns treinadores europeus dão a elas foco destacado nos seus modelos de jogo.

Chamam muito a minha atenção as transições das equipes de José Mourinho. Especialmente as ofensivas.

Que muitos treinadores entendam a importância delas no futebol moderno e que tantos outros desenvolvam estratégias e lógicas ímpares para a sua execução, isso é inegável. Mas as das equipes de José Mourinho têm algo especial.

Basicamente quando uma equipe está a tentar recuperar a posse de bola deve ter bem definidas as formas coletivas para tal. Ao recuperá-la, de imediato, o 1º e/ou o 2º jogador (normalmente) tem rapidamente que decidir e definir qual curso dará a bola. Sua ação é decisiva para a organização de jogo da equipe.

Essa ação está (didaticamente) atrelada a quatro possibilidades imediatas na transição defesa-ataque:

1)    Manter a bola na zona de pressão sem progressão da jogada em direção do alvo (o que não costuma ser muito produtivo);

2)    Buscar rapidamente a progressão coletiva da jogada em direção à meta (mesmo que não haja diminuição considerável da pressão sobre a bola);

3)    Tirar horizontalmente a bola da zona de pressão (para depois avaliar qual a seqüência mais apropriada);

4)    Tirar verticalmente a bola da zona de pressão, afastando-a da meta ofensiva e aproximando-a da meta defensiva.

Não é muito difícil imaginar que isso não seja nenhuma novidade para muitos treinadores de 1ª linha. E se não é novidade, não deve haver também grandes questões para serem acrescentadas ao tema, correto?

Nem tanto (ou melhor, nem um pouco!).

Ter quatro opções realmente não é um problema. Problema é ter coletivamente bem definida qual a melhor opção a ser escolhida para cada situação de recuperação da posse da bola no jogo.

Ainda que se tenha como parâmetros a região da recuperação da posse da bola (em suas coordenadas verticais e horizontais), o número de jogadores próximos a ela, a fase de organização do jogo adversário que ela fora recuperada, os princípios operacionais de defesa e ataque predominantes do adversário (e da própria equipe), qual o jogador que recupera a bola e/ou qual adversário que a perde; determinar com maiores chances de êxito, qual a melhor estratégia de transição ofensiva imediatamente após a recuperação da bola necessita de um refinamento, de uma capacidade coletiva de ler as situações-problema e de uma “experimentação” por parte dos atletas as tais situações-problema extremamente grandes e ricas (em qualidade).

E isso (qualidade), podemos notar nas equipes do treinador português.

Fora assim nos pouquíssimos jogos que tive acesso em sua época de Porto, fora assim no inglês Chelsea e já se mostrou assim em tão pouco tempo no Internazionale de Milão no jogo contra a Roma (especialmente no 1º tempo).

Evidente que Mourinho encontrou uma lógica para tal que confere à elas (as transições ofensivas) uma qualidade especial.

Mais evidente porém, é que o seu jogar treinando e o seu treinar jogando possibilita aos seus atletas as mais diversas situações-problema possíveis – e logo aumenta consideravelmente a capacidade deles, de tomar decisões.

Como a lógica da sua transição ofensiva (da de Mourinho) é inerente ao seu modelo de jogo, todos da equipe, coletivamente passam a ler o mesmo jogo o tempo todo (a partir daí as chances de acerto só tendem a aumentar).

Então, é necessário se destacar que possivelmente não esteja apenas no como (onde?, por quê?, quem?, quando?, o quê?) proceder nas transições ofensivas o caminho para torná-las mais eficazes.

O que é possível e também provável, é que um dos “grandes segredos” de tal eficácia esteja sim no como (onde?, por quê?, quem?, quando?, o quê?) construir os treinos para conduzir a equipe ao entendimento da lógica que orientará o modelo de jogo.

Como hoje no futebol as coisas vão meio no “não sou eu quem me navega; quem me navega é o mar (…)” (bela música “Timoneiro”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho), e como o mar ainda parece estar mais para “Cymbospondylus” (réptil marinho primitivo) do que para submarino inglês, creio que os tripulantes da “embarcação futebolesca” ainda vão demorar um pouco para perceberem que estão na direção contrária.

E até lá, muitas vitórias daqueles que estão remando contra a maré…

Leia mais:
A tática, o coletivo e o José Mourino: uma questão de(o) português!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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