Inesperado

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Eis que, no apagar das luzes da janela de transferência, o mundo do futebol sofreu uma abrupta transformação.

E não, não tem nada a ver com a janela em si ou com a transferência de algum jogador em particular, até porque a janela foi fraca como há muito não se via. Basta ver que para boa parte dos maiores clubes, pouca coisa mudou. Apesar da contratação do Berbatov, a grande tacada do Manchester foi manter o Cristiano Ronaldo. Apesar também da contratação do Ronaldinho, a grande tacada do Milan foi manter o Kaká. O mesmo vale pro Arsenal, que não perdeu o Adebayor e nem o Fábregas, pro Liverpool, que manteve o Fernando Torres, e para o Werder Bremen, que segurou o Diego. A coisa só não é a mesma para a Inter, para o Chelsea e para o Bayer porque eles contrataram novos técnicos, e só.

O único clube que talvez tenha fugido da regra foi o Real, mas não porque contratou o Van der Vaart, e sim porque vendeu o Robinho. Robinho, aliás, que faz parte da mudança anunciada ali no primeiro parágrafo. Não o Robinho em si, entenda, mas sim o que motivou a sua contratação. No caso, a compra do Manchester City pelo Abu Dhabi United Group.

Essa ninguém previa. Não que o ADUG tenha aparecido do nada, muito pelo contrário. Afinal, eles já tinham tentado comprar o Liverpool, o Arsenal e até o Newcastle. O que ninguém imaginava é que alguém iria comprar justo o Manchester City do Shinawatra, que por sua vez está cada vez mais enroscado com a justiça.

Foi, de longe, a grande transferência da temporada. Grande mesmo. De um dia pro outro, o Manchester City virou o clube mais rico do mundo. Muito, mas muito mais rico que o próprio Chelsea, que já era rico. Perto dos xeiques árabes, Abramovich parece um mendigo. Basta comparar. A fortuna do russo é estimada em 20 e poucos bilhões de dólares. O Abu Dhabi Investment Authority, fundo que controla o ADUG, tem quase 900 bilhões. É tão superior que levou o Robinho, que já tinha quase tudo certo com o Chelsea. E Abramovich ficou de mãos abanando, coisa com a qual, convenhamos, ele não está muito acostumado.

Como todo novo rico do futebol, os árabes começaram a investir pesado. O primeiro da leva foi o Robinho, por 32 milhões de libras, a maior transferência da história do mercado inglês. Agora, já se fala em uma proposta de 135 milhões de libras pra fazer o Cristiano Ronaldo atravessar a rua e trocar o lado vermelho pelo lado azul da cidade. Quase 500 milhões de reais para contar com um jogador por 05 anos. Coisa de quem tem dinheiro e quer mostrar. Coisa de novo rico.

Os efeitos da entrada do ADUG na indústria podem ser bons ou devastadores. Pelo lado positivo, ele vai injetar mais dinheiro num mercado que estava se aproximando de uma grande crise. Por outro, ele vai inflacionar ainda mais os valores de transferência e o salário de jogadores. Robinho virou o jogador de futebol mais bem pago do planeta. E se eles contratarem o C. Ronaldo? E o Kaká?

Para piorar, o ADUG, ao contrário de alguns recentes donos de clubes, como os estadunidenses do Manchester United, não estão nem aí pra ganhar dinheiro. O que eles querem é ganhar respeito e notoriedade no mundo do futebol. E no mundo do futebol, tudo tem um preço, principalmente respeito e notoriedade. O futebol mundial tem um novo dono. Curvemo-nos ao Manchester City.

Nunca imaginei que um dia eu escreveria uma frase como essa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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