A tática da circulação da bola e as armadilhas bolivianas

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A seleção brasileira de futebol é, em princípio, aquela no mundo do futebol, que comporta a maioria dos melhores jogadores de todo o planeta. Jogadores bem treinados, bem alimentados e bem remunerados. Muitos são unanimidades.

Dia desses a seleção brasileira (a melhor?!) jogou (pelas eliminatórias da Copa do Mundo FIFA/2010) contra a seleção da Bolívia.

A equipe boliviana que não goza do mesmo prestígio da sua adversária, teria em tese jogadores menos “talentosos” que os brasileiros. 

Antes do jogo era dada como “quase certa” pela imprensa brasileira e pelas quinas futebolescas uma vitória da equipe do Brasil (alguns apostando em uma grande vitória).

Pois bem, equipes aos seus postos e lá foi o jogo terminar em zero a zero.

A equipe boliviana, de acordo com seu modelo de jogo, estabeleceu uma estratégia bem definida. O Brasil, com uma leitura aparentemente inadequada da organização de jogo da seleção da Bolívia acabou enredado, quase sem saber o que fazer. As principais características inerentes ao futebol brasileiro (o jogo de velocidade, os passes rápidos, as mudanças de direção das faixas do campo e os dribles) acabaram sucumbindo ao sistema organizacional da equipe boliviana (que não foi nenhum primor).

Entendamos as armadilhas do jogo.

Contra a velocidade brasileira a seleção da Bolívia distribuiu-se em campo de forma compacta. Estreitou verticalmente o terreno efetivo de jogo em aproximadamente 30 metros a partir da linha 3 (linha do meio-campo). 

Com o campo efetivo reduzido, os bolivianos conseguiram manter seus jogadores sempre próximos uns aos outros (resultado: dificuldade brasileira em imprimir um ritmo rápido de jogo).

A compactação bem definida aproximou as linhas de marcação bolivianas. Isso dificultou bastante a realização de jogadas individuais (dribles e conduções de bola em direção ao gol) da equipe brasileira porque possibilitou um sistema de coberturas eficientes quase que a todo tempo no jogo – e quando as coberturas falharam; faltas táticas.

O que o Brasil conseguiu fazer (e bem!) no jogo foi a circulação horizontal da bola, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita; principalmente nas regiões anteriores a linha 3.

E é aí que residiu o problema importante. A equipe da Bolívia se organizou ofensivamente para progressões rápidas em direção ao gol e defensivamente para impedir a progressão da posse da bola a partir do meio campo. Isso quer dizer que quando o Brasil recuperava a bola no seu campo de defesa, os jogadores bolivianos buscavam, antes de qualquer ataque à bola, uma recomposição rápida para trás da linha 3. Ali se fechavam compactos e basculavam de um lado ao outro, fechando os corredores laterais e centrais.

O que eles queriam?

Que o Brasil circulasse a bola de um lado para o outro.

O que o Brasil fez para furar o bloqueio boliviano?

Circulou a bola de um lado para o outro.

Isso quer dizer que a seleção brasileira, com a intenção de progredir à meta boliviana, acabou por apostar na manutenção da posse da bola (circulando-a de um lado ao outro) como solução ao seu problema (chegar a meta boliviana).

Em outras palavras, o Brasil se apoiou em um princípio de ataque para conseguir cumprir outro (confusão!). O pior, é que o princípio de defesa dominante da seleção boliviana, acabou por induzir a seleção brasileira a exatamente aquilo que lhe era conveniente (conveniente a Bolívia) – ou seja, aquilo que o Brasil tinha como solução (errada!) para o seu problema só fortalecia a defesa boliviana e aumentava ainda mais as dificuldades do ataque brasileiro.

A seleção boliviana talvez quisesse, antes de fazer um gol, evitar sofrê-lo. Isso não podemos dizer ao certo (só podemos fazer suposições). Certo sim, é que seu princípio operacional de defesa dominante foi adequado ao princípio operacional de ataque dominante da equipe brasileira.

Há ainda quem discurse em nome da dificuldade de se jogar contra equipes bem “fechadas”, que ficam atrás do meio-campo esperando, deixando o adversário trabalhar a bola, com tempo para pensar e tomar decisões…

Realmente deve ser mais “fácil” jogar contra equipes que pressionam, buscam o gol o tempo todo, brigam pela bola, sufocam as saídas de bola e deixam o jogo rápido; realmente… 

O que posso afirmar, sem chances de errar é que, ou equipes e treinadores buscam entender a dimensão organizacional do jogo (para identificar, alterar e influenciar princípios operacionais de ataque e defesa dos adversários, jogo e equipe) ou ainda os “novos velhos” chavões do futebol continuarão seduzindo torcidas, especialistas e profissionais do “mundo da bola”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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