Os meias que marcam e os volantes que armam: continuam fragmentando nosso futebol (até os mestres)!

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No futebol brasileiro predomina o não-profissionalismo. Poucas são as ações que poderiam me fazer pensar o contrário. Claro, minorias existem e não por acaso têm tido maior êxito que seus pares majoritários.

E vejam, não estou nem sequer me referindo a ações e decisões no “campo político-administrativo”.

Já presenciei “presidente” de clube de futebol, em campeonato profissional de 1ª divisão ligando do celular ao banco de reservas para exigir do treinador a substituição deste e daquele atleta. Normal. Isso nem causa mais espanto, nem chama mais a atenção. Óbvio, existem aqueles que se submetem e aqueles que não se submetem a esse tipo de situação.

Já vi treinador “convidando” dirigente a se retirar do vestiário em dia de jogo dando três segundos de prazo para o ato ou senão… Já vi clube dispensar atleta por causa da estatura, do peso e até por cisma.

No futebol predomina o “eu acho”. E de tanto “achar” parece que foi aumentando também o número de coisas a se perder.

Pois bem. Dia desses Wanderley Luxemburgo, em um programa esportivo na TV, disse que hoje existem problemas nas categorias de base, no processo de formação dos atletas de futebol e que isso de certa forma tem atrapalhado muito a evolução e formação das equipes profissionais do futebol brasileiro. Deixou “escapar” entre linhas que os treinadores na “base” estão muito mais preocupados em vencer o jogo do próximo final de semana (ou conquistar o campeonato) do que com a real “formação de jogadores de futebol”.

E ainda que seu pensamento a respeito não tenha sido aprofundado no debate, o seu “entre linhas” é fato.

Pois bem. Gostaria, a partir desse fato, destacar três pontos:

1)     Treinadores das categorias de base talvez não tenham claro qual o seu papel;

2)     Dirigentes e coordenadores de categorias de base talvez também não tenham claro qual o papel e objetivos de treinadores e equipes nas categorias de base;

3)     Bons projetos de formação real de jogadores foram, são e continuarão sendo assassinados por investidores, dirigentes amadores, coordenadores e treinadores presos a paradigmas ultrapassados e crenças baseadas em achismos dos mais diversos tipos.

É ponto pacífico que treinadores de equipes sub-13 (sub-15, sub-17 etc e tal), por exemplo, enxerguem suas “crianças” como atletas adultos em miniatura e, por falta de conhecimento e preparo, ajam (conforme modelam em suas abstrações) como treinadores em final de Copa do Mundo falando com atletas experientes e aptos a entendê-lo (sem se aterrorizar com os gritos desprovidos de inteligência e razão).

É fato que treinadores querem vencer a qualquer custo. Mas é fato também que o mesmo dirigente que o contrata sob a “ladainha” (que ele mesmo diz em frente ao espelho para tentar se convencer) de que resultados de jogos não são importantes, é o mesmo que meses depois quer “decapitar” o treinador que não foi lá tão bem com as vitórias.

Como o dirigente não entende de processo e nem mesmo sabe o que é formação, acaba sendo comum que ele, no final das contas, queira saber somente das vitórias. E o treinador, para se proteger, assume o pacto da mediocridade e vai até as últimas conseqüências com seu plano “maquiavélico” rumo às conquistas.

Não senhores!

Não estou eu aqui a dizer “esqueçam as vitórias; ou formamos jogadores, ou vencemos campeonatos”. Simplesmente porque não acredito que uma coisa está desconectada da outra, ou que uma desabone ou elimine a outra.

Conquistar vitórias também faz parte do PROCESSO de formação. Mas elas vêm (ou deveriam vir!) com o próprio PROCESSO (ao seu tempo – e se falamos de categorias de base, o tempo é algo importante; muito importante!).

Mas o problema é muito mais amplo e profundo do que parece. Estamos vendo apenas a ponta do iceberg.

Uma coisa é entender que as categorias de base fazem parte de um processo de formação de jogadores de futebol. Outra é entender o que é jogar futebol (sem fragmentar o que é tático do que é técnico, do que é físico do que é mental – e isso até alguns dos “mestres” que nos encantam tem dificuldade para entender, conceber, discursar/agir), o que ensinar, porque, como ou quando e principalmente o que é processo.

E aí termino então com um trecho de um texto do Tostão (“Estatutos do futebol”). O que eu quero dizer com ele? As entrelinhas dirão por si só…

“(…) Repito, pela milésima vez, que muito mais importante que esquemas táticos é a qualidade dos jogadores. Porém eles brilham muito mais quando jogam em equipes organizadas.

A solução mais urgente para formar talentos no meio-campo é os técnicos, desde as categorias de base, pararem de escalar volantes que só marcam e de colocar armadores habilidosos para jogar somente como meia-atacantes. É preciso descobrir solistas, pianistas. O meio-campo está saturado de carregadores de piano (…)”

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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