E a crise?

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Há certo tempo atrás, o mundo passava por um momento de crescimento como poucos antes na história. Tudo ia muito bem. Todo mundo tinha muito dinheiro. Novos negócios eram sempre grandes oportunidades para ganhar dinheiro.

Obviamente, esse cenário era superestimado. Nem tudo estava bem. Nem todo mundo tinha dinheiro. Nem todo negócio era um bom negócio. Era, sim, uma onda de otimismo que alterava boa parte da percepção lógica das coisas. Coisas não muito boas pareciam ser excelentes. E tudo parecia que ia ser assim pra sempre.

Como bem se sabe, isso não aconteceu. Em determinado momento, a onda exagerada de otimismo deu lugar a uma onda exagerada de pessimismo. Do tudo ia dar certo, passamos para o tudo vai dar errado. Nada mais normal, uma vez que os movimentos obedecem ao padrão do equilíbrio de mercado. Um baque como esse serve para purificar um ambiente que se encontrava infestado de papéis e títulos não funcionais. Escaparemos todos bem, até que fiquemos otimistas demais para então nos tornar novamente pessimistas em exagero. É o ciclo natural do mercado.

Quando esse ciclo chega na parte negativa do processo, a tendência é que todo mundo fique com um pé atrás com qualquer coisa que envolva dinheiro. Essa desconfiança, portanto, possui reflexo direto na oferta de crédito, que acaba ficando escassa, o que por sua vez mina ou encarece alguns investimentos.

O maior problema da atual crise, ao que parece, é justamente a cessão da intensa oferta de crédito ao qual todos estavam acostumados. Você tem um projeto muito doido na cabeça? Dois anos atrás, não tinha problema. Alguém, em algum lugar, ia acabar te emprestando dinheiro por juros relativamente baixos. Hoje, existe uma dificuldade enorme de se encontrar dinheiro para emprestar, e quando se encontra, os juros vão lá em cima.

Os efeitos dessa lógica no mercado do futebol estão ficando visíveis, principalmente naquilo que tange projeto de novos estádios, em especial na Europa. Alguns clubes estavam finalizando os projetos e tiveram que adia-los por conta da dificuldade de achar alguém que o financiasse. Projetos megalomaníacos tiveram que ser redesenhados e ainda aguardam investidores interessados. Ninguém sabe ainda quando os novos estádios ficarão de pé, se é que isso irá acontecer.

Outro efeito para clubes europeus é a necessidade da re-adequação de preço dos ingressos. Alguns clubes começaram a perder público, uma vez que, em época de crise, a tendência é que as pessoas poupem o máximo de dinheiro possível. Isso implica no corte de gastos supérfluos. E futebol é uma coisa meio supérflua, pelo menos para a maioria das pessoas.

Isso significa menos dinheiro para os clubes, o que também significa menos dinheiro para salários e transferências. Nunca o mercado por jogadores que têm o contrato acabando foi tão concorrido. Não só porque as receitas de dia-de-jogo dos clubes diminuíram, mas também porque o financiamento bancário para transferências também desapareceu, no processo semelhante aos estádios.

A crise certamente terá conseqüências em novos projetos e no mercado de transferências, mas dificilmente afetará diretamente a maioria dos clubes. Os grandes clubes são tão grandes que dificilmente sofrerão muito com a diminuição da gigantesca demanda ou problemas de uma ou outra empresa. Sempre haverá alguém disposto a colocar dinheiro em clubes poderosos. Os clubes menores, que certamente sofrerão mais com a perda do dinheiro de transferências e com a diminuição da demanda, possuem como grande fonte de receita os contratos de transmissão dos campeonatos, que já estão assinados e continuarão a dar dinheiro para as equipes. É pouco provável que haja uma quebra sucessiva de clubes e afins. Um ou outro não deve escapar, mas a maioria deve ficar onde está.

Resta saber se isso é bom ou ruim. Um re-equilíbrio mais drástico de mercado poderia fazer muito bem às estruturas do futebol.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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