Choque de gestão

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No final de 2008, o Clube Atlético Paranaense passou por um processo eleitoral no qual, pela primeira vez nos últimos 14 anos, houve o chamado “bate-chapa” na disputa entre grupos oponentes.
 
De um lado, o grupo formado por sucessores da situação, cujo mentor era Mário Celso Petraglia – ícone da história do clube nesse período de calmaria política e de grandes avanços no seu modelo de gestão, dentre os quais a construção do mais moderno estádio do Brasil, um centro de treinamento de nível de excelência, e um título do Campeonato Brasileiro em 2001.
 
De outro, a banda dissidente, representada por renomados conselheiros-torcedores, que criticavam o modelo vigente, amparados, especialmente, na falta de competitividade desportiva vivida pelo clube desde o vice-campeonato nacional em 2004 – sendo apontada a falha maior como falta de gestão das categorias de base para revelação de jogadores com DNA do clube a custos abaixo do mercado de transferências.
 
Em outras palavras, algo que poderia tornar sustentável o modelo de reconhecido sucesso nos últimos anos.
 
Resultado da eleição: ganhou a chapa de situação, com folga. Consequência atual: bate-boca público entre o antigo manda-chuva, Petraglia, e seu sucessor, Marcos Malucelli. Motivos principais alegados: ingerência política nos bastidores e discordância sobre os novos rumos adotados, já mencionados à época do pleito.
 
Dois aspectos ganham relevo nesse episódio, são parecidos nas palavras, complementares nos seus efeitos, mas não devem ser confundidos simploriamente: política de gestão e gestão política.
 
A política de gestão pode ser compreendida como o direcionamento administrativo que se quer imprimir a uma empresa, entidade, instituição, seja qual for, inclusive a um clube de futebol. Diz respeito ao planejamento geral, estratégico, que engloba missão de negócios, visão, valores, objetivos e metas, dentro de um cronograma.
 
Os tomadores de decisão, portanto, determinam as diretrizes administrativas do clube, e podem definir seu modelo de negócio (posicionamento do clube no mercado do futebol) e o modelo de gestão (o que deverá ser feito em termos de processos administrativos para atingir os resultados esperados junto ao modelo de negócios).
 
Modelo de negócio é o esquadro. Modelo de gestão é o dia-a-dia administrativo referente aos processos por ele alinhavados. No meio de ambos e dentro de cada um, há margem para a gestão política de interesses.
 
A política, em si, é praticada por todos nós ao longo do dia. Por mais banal que seja, negociar em seu trabalho, com membros da família, com amigos, na rua, é fazer política. Num sentido mais estrito, dentro da estrutura de um clube de futebol, a política é igual à negociação mais poder visando à tomada de decisão.
 
Historicamente, os clubes de futebol, não só no Brasil como em todo o mundo, são palcos férteis para o desenvolvimento e a presença de lideranças políticas que interferem direta ou indiretamente em sua gestão, sem o devido preparo profissional especializado que o futebol exige em tempos de mercado competitivo global.
 
Isso não é algo fácil de superar ou, ainda menos, erradicar. A gestão desse esporte evolui a cada dia, mas não se pode descuidar desse embate.
 
Portanto, na próxima eleição em seu clube, fique atento na briga entre política de gestão e gestão política.
 
O futebol adverte: a segunda opção pode fazer mal à saúde administrativa, financeira e desportiva do clube.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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