Os ensinamentos de “Boleiros”

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Sim, confesso, ainda estou em dívida com o grande Ugo Giorgetti. Não assisti ao “Boleiros 2”. E um dos motivos é porque tenho um grande receio de não me apaixonar pela continuação daquele que é até hoje a melhor tradução da essência do futebol de São Paulo.

Para quem não viu, “Boleiros”, o primeiro filme de Giorgetti, é daqueles para ver, rever, realugar na locadora, re, re, re… Porque ele sintetiza o que de melhor e de pior tem no universo do futebol que tanto nos encanta.

Aliás, poderia ser hoje o filme a ser exibido em sessão mais do que extraordinária na casa do garoto Neymar, de 17 anos, nova estrela do time do Santos. Ou, então, virar um programa bacana no apartamento de Fred, o reforço goleador do Fluminense. Ou ocupar pelo menos um pedaço da sempre longa noite de Ronaldo, o cracaço global do Corinthians.

Mas, também, deveria ocupar a prateleira da videoteca (ou DVDteca, como preferir) dos colegas jornalistas e, também, dos empresários e aspirantes a empresários de jogador de futebol. 

Neymar fez gol no Pacaembu, em seu terceiro jogo pelo Santos. Já o projetam utilizando a 7, a mesma camisa que foi de Robinho e que recolocou o Peixe no mapa futebolístico pós-Pelé. O garoto é bom de bola, mas ainda está mais para o Azul, aquele personagem de uma das tantas e maravilhosas histórias contadas no “Boleiros”, do que para um Robinho ou, quem sabe, um Ronaldo (Pelé não vale!).

Quem não está entendendo patavinas, segue uma breve sinopse da história do Azul. Meio-campista da Portuguesa, ele arrasa numa partida, faz um golaço (no filme, é a reprise daquele antológico gol de Denner, pela Lusa, contra a Internacional de Limeira, no Paulistão de 1992) e vira, de uma hora para a outra, o astro do futebol nacional. 

Azul é chamado para todas as mesas-redondas daquela noite, ao mesmo tempo em que é perseguido pela ex-namorada (a Neidinha, maravilhosamente interpretada pela Denise Fraga) e “alugado” pelo empresário, que de todas as formas tenta negociá-lo com um time da Itália. 

Neymar fez um gol, Fred teve uma ótima estreia contra o inexpressivo Macaé. Ronaldo está ainda voltando a ser um jogador de futebol.

Mas a imprensa já pinta e borda os três como os grandes salvadores da pátria de Santos, Flu e Corinthians. Ainda é prematuro prever qualquer coisa. Só dá para dizer que os três são capazes de se tornarem importantes para os seus times em 2009. 

Mais do que isso é puro chute. Daqueles que só os pernas de pau conseguem fazer. Ou que só a imprensa, sedenta por ídolos, é capaz de criar. 

Falta um pouco mais de Azul na preocupação da cobertura jornalística. Ou, pelo menos, um pouco mais de cultura cinematográfica para vermos, de uma forma simples, como a mídia é capaz de criar e destruir ídolos. Tudo pela eterna mania de precisar dar uma opinião definitiva logo no primeiro encontro. O tempo pode fazer do céu azul. Para isso, deveríamos lembrar cada vez mais da história do Azul…

Para interagir com o autor: erich@149.28.100.147

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