Na tentativa de abordar o tema ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’, alguns olhares já foram estabelecidos e discutidos nesta coluna e também por outros autores. Portanto, o objetivo nessa seqüência é organizar e agrupar algumas ideias de forma sistemática para que possam contribuir com aqueles que pretendem fazer do domínio da tecnologia um diferencial de atuação e intervenção, compreendendo que não basta saber usar um aparelho, é preciso saber como, onde e quando.
Num primeiro momento, considero crucial discutir o que é ciência e tecnologia. Tornar evidente, ou ainda, o mais explicito possível os conceitos e possibilidades para que o profissional que deseja compreender e, o mais importante, transferir essas idéias para a sua atividade prática, possa identificar os limites, definir suas expectativas e fazer uso tanto da ciência como da tecnologia de forma consciente, coerente e objetiva.
No esporte em geral, e mais evidentemente no futebol, há uma tendência em se justificar algumas coisas pelo inexplicável ou sobrenatural, às vezes acentuada pela paixão ou pelo significado que a modalidade adquiriu no Brasil, afinal, para nós, o futebol é um patrimônio cultural. Talvez por isso, crônicas apaixonadas como as de Nelson Rodrigues tenham se tornado uma representação da verdade, como o popular ‘Sobrenatural de Almeida’, na qual é invocado o místico que circunda e muitas vezes ‘explica’ o futebol, e acaba constituindo a verdade de muitos dos profissionais da bola.
Como justificar a ciência a serviço do futebol se aqueles que o fazem, seja no âmbito da prática, seja no âmbito do espetáculo, acreditam mais no tal do Almeida do que nos fatos. A tão invocada imprevisibilidade do futebol é tida como uma deusa e coloca o futebol acima de qualquer estudo e, para tanto, afasta com todas as forças a ciência.
Ora, assim é possível compreender a resistência histórica do futebol em relação a ciência. Muitos apontam a religião como grande rival da ciência. Ciência essa que tenta provar ou negar coisas que a religião perpetua e explica. Mas, com certeza, ambas estão muito próximas, tanto que para muitos, o desejo de provar ou negar a existência de Deus é o que os motiva por anos e décadas de estudos.
Voltando ao esporte… Se o futebol é classificado as vezes como religião e tem a ‘deusa imprevisibilidade’ como grande marca, como querer que a ciência, ‘rival’ da religião (lembro que não é esta a opinião do autor em relação ao distanciamento religião/ciência) possa ganhar espaço?
É imprescindível compreender o que é ciência para superar esses preconceitos, mas o amigo leitor pode ficar tranqüilo que não pretendo cansá-lo por demais com isso.
O conhecimento científico não é estático. Está em movimento e suas verdades prevalecem até serem falseadas. Mas o que isso significa?
Ser falseada é ser colocada à prova. Quando chega a uma definição ou verdade, a ciência o faz com base em procedimentos rigorosos e que aprofundam o conhecimento pré-existente sobre os fatos. E, até que novos estudos tragam novas constatações, as verdades prevalecem. E nisso não há demérito nenhum, tampouco espaço para melindres e vaidades, afinal, é um processo natural de evolução dos processos. Cientistas estão acostumados (ou deveriam) a isso, trabalham para comprovar ou negar hipóteses ou verdades existentes.
A ciência busca explicações e os significados dessas explicações. Essa busca permite compreender melhor os fatos e assim interpretar de forma mais incisiva, adequando os usos e aplicações conforme as necessidades de quem está imerso no futebol.
A ciência pode e deve fazer parte do futebol, aliás, ela já faz em muitos segmentos, em alguns, no entanto, prevalecem rusgas e verdades que, com o passar do tempo e dos fatos, serão superados.
A tecnologia casa perfeitamente com os preceitos da ciência e o profissional deve compreender que nada disso é teoria. Como fazer isso? Compreendendo a ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’ para tornar sua prática, fruto de conhecimento e experiência.
Continua…
Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br