Geração perdida

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Adriano decidiu parar. Numa atitude inusitada, talvez uma das mais corajosas já vistas nos últimos tempos, o craque da Internazionale e da seleção brasileira afirmou que “vai dar um tempo” na carreira como jogador de futebol, apesar de ter só 27 anos de idade.

Como pode um cara jovem, com alguns milhões na conta bancária, atleta com grande sucesso profissional, mais de uma vez artilheiro do Campeonato Italiano, campeão de Copas Américas e das Confederações pela seleção brasileira, dizer que quer “dar um tempo”?

“Num dia eu era apenas um garoto da Vila Cruzeiro, aí virei o Adriano e depois o Imperador. Tudo isso foi demais para mim”.

Essa foi uma das frases para explicar o inexplicável. Mas que deixa claro, nas entrelinhas, o quanto é difícil uma pessoa estar preparada para ser um jogador de futebol de sucesso.

Adriano não resistiu ao baque e teve a coragem de tornar público esse sentimento. 

Massacre da mídia, assédio de boas e más pessoas, estresse para manter o alto rendimento dentro de campo. Tudo isso ajuda para um jogador “pirar” quando começa a se tornar famoso. Para piorar, faltou a Adriano o que falta à maioria das pessoas, ainda mais quando pensamos em jogador de futebol vindo de uma realidade de muita pobreza: amparo familiar.

A falta de estrutura familiar é um problema cada vez maior no mundo todo. Aquela família bem constituída, com força para superar grandes traumas, é rara de se encontrar. É um problema social, fruto de uma pretensa “evolução” do relacionamento humano, em que a individualidade se transforma muitas vezes em sinônimo de dificuldade de se viver como casal, com filhos, etc.

Adriano sofreu pela falta de um amparo familiar nesse vertiginoso crescimento de sua carreira. 

Num dia garoto da favela que sonhava em jogar pelo Flamengo. No outro, após poucos meses no Rubro Negro, o Imperador da Itália, com toda a mídia em cima, os dólares no bolso e os 20 e poucos anos para curtir tudo isso.

E o futebol? 

A cada gol, mais farra. 

E a evolução da carreira?

A cada farra, menos gols.

E por aí Adriano foi deixando de lado os gols para se envolver nas polêmicas. Tornou-se alvo fácil dos fãs e da mídia. Descuidou-se, deixou-se fotografar em festas, caiu no arrependimento, voltou ao Brasil, jogou no São Paulo e já voltou para a Itália. Onde a rotina de farra voltou a tirar o foco do grande atleta que um dia tinha sido.

Adriano não teve, em nenhum momento de sua meteórica ascensão, um psicólogo a tiracolo, que observasse o seu comportamento e suas reações a tantas mudanças. Não é “tratamento”, muito menos “doença”. É simplesmente amparo para uma das mais desgastantes profissões que existem, que é a do atleta profissional, ainda mais do futebol.

Adriano está se tornando o ícone de uma geração perdida. Que pode ainda envolver Robinho e Ronaldinho, outros craques da bola nos pés, mas que pelo visto estão perdendo o controle do que mais sabiam fazer por conta da mudança brusca que é a vida da pessoa a partir do sucesso de mídia e de público.

Que o ato de Adriano encoraje o futebol a entender a importância da psicologia no seu dia-a-dia. E que tente dar à mídia mais cérebro para compreender o seu papel na formação e, cada vez mais, na destruição de ídolos.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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