Todo jogo, seja ele qual for, tem uma lógica. Inexorável, soberana. O jogo de futebol não escapa a isso.
Todo jogo, por ser jogo, traz como característica inerente, a imprevisibilidade.
No futebol, é comum que tanto lógica quanto imprevisibilidade levem “especialistas”, treinadores e torcedores à distorção da percepção dos fenômenos da complexidade do jogo.
Poucos são os esportes em que o “melhor” perde para o “pior” com tanta frequência. Quando esse fato é misturado com reflexões rasas sobre o que significa lógica do jogo, fica pronto o “pacote” e se reforça o discurso: “futebol não tem lógica, quando a gente acha que o time grande vai ganhar fácil, ele perde”.
Para entender melhor o que quero dizer é preciso primeiramente entender que a “lógica do jogo” está no âmago do jogo; não vai fugir, escapar, desaparecer etc. e tal. Sua existência independe do adversário “A” ou “B”, independe se quem vai vencer é a equipe “X” ou a equipe “Y”, independe da minha vontade, da vossa ou de quem quer que seja.
O entendimento disso não é trivial, mas acreditar que o jogo de futebol não possui lógica é o mesmo que criar uma “sombra” capaz de ocultar o brilho da complexidade do jogo real e se distanciar cada vez mais do seu cumprimento.
Será vencedora aquela equipe que resolver melhor os problemas do jogo, aproximando-se do cumprimento de sua lógica.
A lógica do resultado então não é aquela criada no imaginário coletivo a favor dessa ou daquela equipe e sim a aproximação ao cumprimento da lógica do jogo por uma equipe, mais do que pela outra.
A lógica do jogo não veste camisa, veste o jogo, e como o jogo é JOGO, lá sempre estará a imprevisibilidade; e é aí que mora outro perigo de interpretação e entendimento.
Nenhuma partida de futebol é igual a outra. Situações trazem a cada fração de segundo uma nova circunstância. Cada circunstância, novos problemas, e por aí vai. Nunca se sabe exatamente o que vai acontecer.
Então cumprir a lógica do jogo é também saber que não se pode tornar o imprevisível previsível, mas que entendendo a imprevisibilidade, é possível torná-la menos imprevisível.
Como nos ensina Rubem Alves “Todo pensamento começa com um problema. Quem não é capaz de perceber e formular problemas com clareza não pode fazer ciência [futebol é arte, ciência, os dois?]. (…) Não é curioso que os nossos processos de ensino de ciência se concentrem mais na capacidade do aluno para responder? Você já viu alguma prova ou exame em que o professor pedisse que o aluno formulasse o problema? O que se testa nos vestibulares, e o que os cursinhos ensinam, não é simplesmente a capacidade para dar respostas? Frequentemente, fracassamos no ensino da ciência porque apresentamos soluções perfeitas para problemas que nunca chegaram a ser formulados e compreendidos pelo aluno”.
Qual é o problema do jogo de futebol? Qual é o problema para se alcançar a lógica do jogo de futebol?
“O sábio começa do fim; o tolo termina no começo”. (Polya)
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br