Impactos do videogame no ensino do futebol II: a vivência

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Olá amigos, no último texto, lançamos algumas perguntas sobre os impactos do videogame no ensino do futebol. 

O que pode parecer um assunto descontextualizado para muitos, na verdade, deve ser observado como um importante ponto de reflexão da atuação dos profissionais no futebol hoje, sobretudo, daqueles que lidam com a modalidade em âmbito pedagógico, ou melhor, de formação, uma vez que trato pedagógico não se restringe às crianças.

A primeira questão levantada foi:

O jogo de futebol pelo videogame pode ser considerado uma vivência da modalidade?

Sem entramos em discussões filosóficas sobre o que é ou não uma vivência, vamos direto ao ponto. O professor Mauro Betti, da Unesp, traz a ideia central que compartilho com os amigos leitores: “A vivência antecede a prática”.

Muitas vezes, o foco na formação futebolística de uma criança é dada em relação aos seus aspectos de crescimento e maturação, alguns ampliam ainda para os aspectos psico-cognitivos, mas quase sempre nos deparamos com ações isoladas e simplistas que não consideram a complexidade do ser humano, das interações que estabelecem  e de suas bagagens de conhecimento e aprendizado.

Com base na necessidade de ampliar o foco no ser humano complexo, é que entendemos fazer sentido essa premissa da vivência anteceder a prática. 

Quando a criança chega a uma aula de futebol, muito provavelmente ela já vem carregada de estímulos e exemplos baseados em outras interações que estabeleceu na sua curta, mas rica experiência de vida. E um desses estímulos sem dúvida é o videogame.

O videogame pode não permitir a vivência de elementos característicos do futebol, mesmo que os avanços recentes tentem dar mais movimentos de jogo, ainda que virtuais. Mas com certeza permite uma vivência de elementos que serão encontrados na prática propriamente dita.

Ao definir o posicionamento e estratégias de sua equipe em um jogo virtual, a criança já está sendo estimulada indiretamente a compreender alguns aspectos lógicos sobre a organização do jogo, que podem configurar-se em importantes links para a transferência de conceitos virtuais para a compreensão do jogo concreto.

E, ainda que pareça abstrato, tais transferências podem ser incorporadas pelo aluno, afinal, seus gestos técnicos e motores são influenciados pelos estímulos culturais e sobretudo, pelos significados que eles atribuem ao jogo, a partir da compreensão que ele tem do mesmo, o que nos leva a uma importante frase do professor Alfredo Feres Neto quando refere-se a essas novas vivências esportivas e diz:  

” …eu sou o mesmo que pratica e assiste – eis em ambas, minha motricidade” (FERES NETO, 2001, p. 84).

Deste ponto, fazemos um destaque à possibilidade que os recursos tecnológicos abrem para explorar essa vivência e buscar tirar proveito sobre dois aspectos. Considerando que ao praticar, assistir, ou ainda jogar um videogame, as soluções encontradas são marcadas (enraizadas) na criança.

Primeiro sob o ponto de vista da compreensão do jogo que o videogame oferece e depois sobre as oportunidades de interação que podem ser estabelecidas.

Para ilustrar retomamos um trecho do texto desta coluna no dia 16 de setembro de 2008 (Os atletas antenados do futsal brasileiro) quando falávamos do trabalho de PC Oliveira técnico da seleção de futsal do Brasil, ao defender o uso de recursos com identidade e interatividade muito similares a de videogames no seu cotidiano de treino.

Um dos argumentos do técnico é que se os jogadores têm competência para manusear os inúmeros aparelhos que compram imediatamente a cada novo lançamento (notebooks, ipods, DVDs players, palms, celulares), sem contar como lidam com internet, não seria um empecilho utilizar desses meios como ferramentas complementares na preparação da seleção, facilitando ainda mais a compreensão de jogo.

E outro ponto que PC Oliveira levanta é que se queremos desenvolver atletas inteligentes (pois afinal são eles que fazem a diferença) nada como estimular isso, e com os recursos tecnológicos é possível visualizar, criar, modificar, compartilhar, e aprender…

Partir dessas vivências, pode trazer importantes aspectos ao ensino do futebol, mas tal ensino deve ser parametrado em propostas sólidas  e profundas que respeite a complexidade do ser humano e do jogo de futebol, além de otimizar o uso de recursos tecnológicos para a consolidação de conteúdos.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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