Causou revolta em diversos pontos do país o fato de a Globo não ter transmitido, para Rio de Janeiro e São Paulo, os dois jogos decisivos da Copa Libertadores de 2009. Mesmo com um time brasileiro na decisão, a emissora carioca preferiu exibir jogos do Campeonato Brasileiro nos dois dias em que o Cruzeiro decidiu o título da principal competição da América.
O episódio reforçou, mais uma vez, uma realidade cada vez mais presente na relação do esporte com o jornalismo dentro das empresas de mídia.
A principal notícia da semana, sem qualquer dúvida, era o Cruzeiro. A possibilidade do tricampeonato da Libertadores, a chance de Adilson Batista se tornar o primeiro ex-jogador a ser campeão do torneio também como treinador, a partida de despedida de Ramires…
Não faltavam motivos para a imprensa não dar qualquer pelota para o jogo do Mineirão. Tanto que todos os veículos de Rio e São Paulo deslocaram equipe para Belo Horizonte, ficaram com repórteres no dia-a-dia do Cruzeiro, fizeram uma série de reportagens sobre o time.
Mas na hora de a bola rolar…
A Globo de São Paulo, detentora exclusiva dos direitos de transmissão da Libertadores, preferiu mostrar jogos de times de São Paulo (Corinthians e Palmeiras) no Campeonato Brasileiro em vez de ir para a óbvia exibição de título do Cruzeiro.
E quais os motivos para fazer isso? Durante toda a semana o time mineiro é quem esteve na crista da programação, com reportagens, notícias de bastidores, etc. Na hora da decisão, porém, o torcedor teve uma “surpresa” ao ver o jogo do Brasileirão.
É preciso deixar claro, na cabeça da própria imprensa e dos torcedores, que para a televisão, o futebol deixou de ser um produto meramente jornalístico. Sim, o dia-a-dia do clube continua a ser tratado jornalisticamente, com repórteres descobrindo histórias, com entrevistas, etc.
Mas a transmissão de uma partida é, atualmente, um show. Antes de qualquer outra coisa. São diversas câmeras em busca da imagem mais marcante, imagem em alta definição, chamada para o jogo em clipes durante toda a programação da semana…
Em busca da audiência, o jornalismo deu lugar ao entretenimento. Isso é cada vez mais claro, principalmente dentro da Globo, que pauta tudo o que faz pelo índice de audiência. Seguindo essa lógica, o Cruzeiro ficou de fora da grade da emissora.
No final das contas, porém, a medição do Ibope mostrou que o jornalismo ainda é forte.
Nos dois jogos exibidos nas quartas-feiras em São Paulo, a Globo obteve 27 (Corinthians x Fluminense) e 26 pontos (Flamengo x Palmeiras) de audiência. No ano passado, quando exibiu um jogo do Corinthians pela Série B do Campeonato Brasileiro na data da primeira final da Libertadores, obteve 26 pontos de audiência. Na semana seguinte, quando a decisão continental do Fluminense ganhou as telas de todo o país, a audiência cravou 31 pontos.
O produto é o entretenimento, disso não há dúvidas. Mas as emissoras de TV não podem se esquecer que, para o fã de futebol, a importância do jogo que se transmite é um fator relevante.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br