Nesta manhã de segunda-feira, em São Paulo, o Grupo Pão de Açúcar celebra a assinatura do contrato de patrocínio com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O acordo vai até a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no país, e renderá cerca de US$ 5 milhões ao ano para os cofres da CBF.
Para quem esteve, há menos de dez anos, ameaçado de perder o cargo e ir para a cadeia, a assinatura de mais um contrato de patrocínio deveria ser motivo de orgulho. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, conseguiu uma das mais vitoriosas histórias no cenário empresarial brasileiro. Saiu do inferno para comandar o céu.
A Copa do Mundo de 2014 é hoje o pretexto para que a CBF e, consequentemente, Teixeira, tornem-se objeto do desejo de políticos e empresários. Decisões de quem pode ou não se beneficiar com a verba e o prestígio do Mundial tupiniquim cabem exclusivamente ao manda-chuva do futebol nacional.
E a celebração de mais um contrato de patrocínio para a CBF é um reflexo do que é o Brasil. Uma terra de absurdos contrastes, em que os mais ricos ficam ainda mais ricos e não se preocupam em dividir parte de sua riqueza com os mais necessitados.
Só em 2008, a CBF tinha quebrado o recorde de arrecadação na sua história. Com a Copa do Mundo confirmada no país, a entidade viu saltar o número de patrocínios e, também, aumentarem os valores pagos pelos patrocinadores que já estavam com ela. A consequência disso: a entidade teve um lucro recorde de R$ 32 milhões.
Com a sobra do dinheiro, o que fazer? Uma das medidas tomadas foi comprar um jato de US$ 10 milhões para a entidade. A justificativa é de que o avião facilitaria as viagens dos membros da Fifa que estarão por aqui para visitas das sedes da Copa. Só que as escolhas já estão feitas e, ao mesmo tempo, as viagens são cada vez mais raras.
Enquanto isso, os clubes que disputam as séries C e D do Campeonato Brasileiro sofrem para conseguir realizar suas viagens e disputar um campeonato que não seja deficitário. Isso sem falar no futebol feminino, que mal tem um torneio para disputar.
A CBF se comporta como um novo rico. Com muito dinheiro, em vez de ajudar o próximo, se preocupa em ostentar a riqueza. E a imprensa, quando denuncia a farra que é feita com esse dinheiro, é chamada de patrulheira.
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