Números inventados

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Esta provavelmente será a coluna de minha autoria mais lida na história. Uma estimativa minha, baseada no número de emails recebidos por conta da última coluna e na repercussão da publicação no digníssimo blogdojuca, indica que o número deverá septuplicar, chegando, superestimando, a 14 leitores, fora a equipe da redação da Universidade do Futebol.

O que, pro meu nível, já gera certa ansiedade. Ainda mais devido à infeliz ideia de deixar para escrever após o “Placar da Rodada”.

Nada sensato. Assim como não foi sensato mencionar o nome da empresa Itaiquara na última coluna. Não apenas pelo número de pessoas que me mandaram emails com receitas de bolo por email, fomentadas talvez por certa nostalgia em relação ao fermento, mas também pela infelicidade temporal.

Você viu a coletiva do René Simões, reclamando da empreitada ao vestiário da Portuguesa, não viu? Você notou a logomarca da Itaiquara logo acima da cabeça dele, indo um pouco pra direita, não notou? Talvez não. Mas eu notei. E só notei por causa da minha maldita última coluna. Não tivesse eu pesquisado a empresa, possivelmente não teria prestado atenção. Não tivesse você lido, também não. Citação errada, na hora errada, com publicidade errada.

A escolta armada lusitana não acabou só com as perspectivas da carreira do Edno no time. Acabou também com qualquer perspectiva minha de receber uma cesta de produtos da Itaiquara. Se o fermento for tão bom assim quanto as pessoas que me mandaram email disseram, eu vou ficar realmente frustrado.

Assim como ficaram frustradas algumas pessoas em se deparar com a pequenez relativa do futebol. Mas não se engane. Ser pequeno em termos financeiro não quer dizer necessariamente ser menos importante. Veja o Dado Dolabella, por exemplo. Ele é rico. E não é importante.

Um questionamento foi levantado por diversas pessoas astutas: afinal de contas, pode ser dito que o negócio do futebol é pequeno porque os clubes faturam pouco em relação ao que outras empresas arrecadam? O fato é que não, não pode. É um questionamento válido e que merece maior análise. Peguemos as quatro fontes de receitas relativas a clubes de futebol: mídia, patrocínio, licenciamento e estádio. Todas elas oferecem receitas para terceiros, ou seja, grana que não passa no caixa do clube. Mas que é do futebol.

A Globo arrecadou, com publicidade aberta e fechada, e mais o pay-per-view, uns 550 milhões de reais com o futebol em 2008. Cálculo grosseiro baseado em uma série de dados não confirmados, mas que indicam, pelo menos, um patamar. Somando a Band, totaliza uns 600 milhões. Acho. Não sei mesmo. Tô chutando, sem nenhuma vergonha.

É muito complicado atribuir um valor de receita gerada por patrocínio, por isso eu também vou inventar um número: 100 milhões de reais. Esse foi o dinheiro que patrocinadores geraram com o futebol. Número inventado com base na soma, também grosseira, dos valores de patrocínio dos clubes adicionados a um pequeno percentual de retorno sobre o investimento. E fazer soma com 100 é sempre muito mais fácil. Adicionemos mais uns 500 milhões de receita de patrocinadores de televisão e chegamos a 600 milhões. Sem fundamento algum, é claro.

O grosso da receita de licenciamento vem da venda de camisas. Uma camisa custa uns R$ 180,00, por aí. Dependendo da marca. Suponhamos que, no ano passado, um em cada 50 brasileiros tenha comprado uma camisa oficial de um clube brasileiro, o que eu acho uma estimativa otimista. Isso dá uma venda de 3,8 milhões de camisas oficiais, que gera uns 680 milhões de reais.

De acordo com a CBF, cerca de nove milhões de pessoas assistiram as séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2008. Suponhamos que cada uma dessas pessoas tenha gasto uns R$ 10,00 nos estádios, já que não tem mais cerveja, e cincão pro tiozinho não riscar o carro, já que tem outros ocupantes do carro pra rachar. Isso dá uns R$ 135 milhões, com estádio. Dos quais, nesse meu cenário deturpado, R$ 45 milhões foram pra mão de flanelinhas. Se for verdade, já saiba o que fazer da vida.

Totalizando, as quatro principais fontes de grana do futebol geram um total de R$ 2 bilhões para terceiros. Vamos supor que os clubes brasileiros, mais as federações e a CBF, tenham gerado uns R$ 3,5 bilhões, o que é também superestimado. Tudo isso somado, e superestimado, dá R$ 5,5 bilhões. Se eu não estiver superestimando o suficiente, esse valor sobe para R$ 6 bilhões, o equivalente a 0,2% do PIB do Brasil em 2008. Se eu estiver meio certo, a fatia real chega a 0,4%. Se eu estiver um pouco certo, talvez chegue a 0,6 ou 0,7% do PIB. Mas não dá pra imaginar que seja mais do que isso. Nada que seja significativo para a economia nacional. Nada que se possa comparar com outros setores produtivos do Brasil. É isso. Puro e simples.

Talvez você esteja decepcionado. Eu certamente estou. Perdi a chance de receber uma cesta da Itaiquara.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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