Ao apresentarmos os números do Brasileirão-09 na última semana, era esperado que viessem críticas e elogios. A previsão se concretizou. E isso só nos instiga a continuar o debate como forma de mostrar pontos de vistas e possibilidades que decorrem da análise do jogo, e neste caso mais especificamente sobre os números das ocorrências, de forma quantitativa.
Pelo lado daqueles que elogiaram, tivemos os argumentos de que:
A comparação com outros anos pode indicar algumas possibilidades e tendências de análises;
A comparação (tão rechaçada pelos profissionais do meio) com o uso do scout em outras modalidades demonstra certo atraso da mentalidade do futebol quanto ao seu uso.
Pelo lado dos críticos tivemos o seguinte ponto focal:
O número não significa nada fora do contexto do jogo;
O número pode mascarar o que de fato aconteceu.
Vale relembrarmos o último parágrafo da coluna passada:
“Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana, definiremos o que é esse tal mecanismo”.
Sem o menor receio de ser tachado de um bom e velho “em cima do muro” concordo com as duas visões.
Conceitualmente a análise do jogo, seja ela denominada, scout, seja chamada de estatística, ou de análise notacional, enfim, com as características e diferenciações que cada um destes termos possuem, tem como princípio estar orientada sob algumas dimensões de observação:
1. Histórica: baseada no histórico de ocorrências, padrões apresentados ao longo das partidas, da temporada, ou da carreira.
2. Espacial: vinculada com regiões do campo, caracterizando as ações em função da localização como, por exemplo, a discriminação entre um passe errado na área defensiva ou ofensiva.
3. Temporal: avaliada com base no desenvolvimento do jogo, na relação com o período, na qual podem ser consideradas, variáveis físicas, influência dos minutos em jogo na capacidade de organização das jogadas e ações.
4. Situacional: considera momentos específicos do jogo, seja ela uma superioridade numérica ou uma triangulação. Situações que caracterizam a combinação de fatos, ou ainda, de duas ou mais dimensões de observação.
5. Sequencial: analisa a construção da ação em virtude de sua origem, desenvolvimento e conclusão. Foco na estruturação da ordem dos fatos que contribuem para determinada ocorrência.
Seja em forma quantitativa ou qualitativa, a análise do jogo deve basear-se em alguns pontos:
Experiência e conhecimento de futebol por parte daquele que interpreta;
Conhecimento dos conceitos e definições da metodologia utilizada nas observações (o que é um passe, o que é uma triangulação, etc;
Especulação baseada nos dados e informações.
Dentre outros itens, gostaria de parar nesse para, num próximo texto, continuarmos a aprofundar o tema. Isso porque entendo esse último ponto levantado como um dos primordiais para quem pretende fazer um bom uso do scout no futebol.
Sem, ele podemos cair no “senso quase comum” de que os números não dizem nada sobre o jogo.
Seja analisando números, sequência de jogo, perfis de atletas ou padrões de jogo, o scoutista (termos que particularmente utilizamos para quem faz a análise do jogo) deve especular sobre o que os dados podem dizer.
Ao observar o número de ocorrência de faltas, por exemplo, deve-se, sem receio de coibir nesse momento um possível equívoco, levantar o máximo de interpretações.
Se o time que mais faz falta é líder do campeonato, deve-se atentar o que isso pode trazer de especulação: fazer falta é o caminho? Onde são cometidas essas faltas? O que as faltas dessa equipe têm de diferente? A quantidade de faltas é determinante? Quem faz essas faltas, o atacante ou o volante?
E nessa linha, prossegue-se com especulações, geram-se questionamentos. Com essas e outras formas de análises somadas ao conhecimento e à experiência do scoutista, se consegue aperfeiçoar e aprofundar a análise.
Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br