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O fim de semana com uma série de relatos de violência por todo país ofereceu, mais uma vez, evidências de um problema que o governo, em conjunto com outros órgãos do futebol, se recusa a enxergar: a violência no futebol, hoje, não é dentro dos estádios. A briga acontece fora dele, disseminada por toda área urbana das grandes cidades.

O confronto entre torcedores do São Paulo e Corinthians foi um exemplo. Não havia jogo entre as duas equipes e a briga foi longe de qualquer estádio. Em Porto Alegre, um ônibus com torcedores do Internacional foi baleado na Serra Gaúcha.

Em Curitiba, o jornal Gazeta do Povo fez um levantamento que demonstrou pelo menos quinze diferentes pontos de brigas relacionadas ao clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no último domingo. Nenhum desses pontos foi minimamente perto do estádio Couto Pereira, palco do jogo. Um torcedor atleticano está em coma profundo depois de ter sido atropelado por um torcedor do Coritiba, próximo ao estádio do Atlético-PR. Outros torcedores chegaram a invadir um ônibus na periferia e ordenar que todos os passageiros descessem para que o motorista os levassem até o estádio.

Ainda assim, o governo tenta emplacar o inaplicável cadastro nacional de torcedores como solução mágica para a violência relacionada ao futebol no país.

Pode-se dizer, também, que houve briga dentro de estádio sim, no clássico Botafogo e Flamengo, no Engenhão, entre a própria torcida do Flamengo. De fato, houve. E a polícia interveio. E tudo foi filmado. E nem por isso você viu algum policial pedir qualquer identificação para qualquer um dos envolvidos no problema. Não pediu a carteira de identidade, não pedirá também a carteira de torcedor.

Ademais, como um cadastro nacional de torcedor pode impedir que duas torcidas rivais briguem em um determinado ponto da cidade, a quilômetros do estádio? Não vai. E é aí que está a questão. Não tem como. O problema é maior que o futebol. O problema é social. O problema é cultural. Tudo indica que gastar dinheiro com carteirinha e leitores biométricos seja populista e arbitrário.

O confronto entre as torcidas do Flamengo é também mais uma evidência de como o problema não é a violência do futebol em si, mas sim de um aparato maior que encontra no futebol um canal de expressão, mas não de mobilização, tampouco de sobrevivência.

O futebol serve apenas para que indivíduos propensos a brigar arranjem um motivo. Que poderia ser qualquer outro. Se a educação no Brasil fosse melhor, talvez essas brigas tivessem cunho político e ideológico. Se fosse pior, talvez tivessem cunho religioso.

Infelizmente, não há nada que um clube sozinho possa fazer para solucionar o problema. Ele precisa da colaboração dos outros clubes e das autoridades públicas para cruzarem informações, dados e inteligência. Para que seja possível prevenir ao máximo e punir de maneira efetiva quando for preciso.

Mas, para isso, é preciso ter uma unidade mais forte entre os clubes, coisa que quase não existe. Também é necessário ter uma polícia específica para esse tipo de problema, coisa que também é rara. E, acima de tudo, é importante ter um governo que consiga enxergar e reconhecer o problema de maneira efetiva, consistente e racional, o que existe menos ainda.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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