Viva o povo brasileiro!

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Na China Antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses praticavam um jogo, que na verdade era um treino militar. Após as batalhas, formavam equipes para chutar a cabeça dos soldados inimigos.

Com o tempo, as cabeças dos inimigos foram sendo substituídas por bolas de couro revestidas com cabelo. Formavam-se duas equipes com oito jogadores e o objetivo era passar a bola de pé em pé, sem deixar cair no chão, levando-a para dentro de duas estacas fincadas no campo.

Da Idade Média, há relatos de um esporte muito parecido com o futebol, embora se usasse muito a violência. O Soule ou Harpastum era praticado por militares que se dividiam em duas equipes: atacantes e defensores. Era permitido usar socos, pontapés, rasteiras e outros golpes violentos, inclusive ocorria a morte de alguns jogadores durante a partida. Cada equipe era formada por 27 jogadores, onde grupos tinham funções diferentes no time: corredores, dianteiros, sacadores e guarda-redes.

Na Itália daquela época, apareceu um jogo denominado gioco del calcio. Era praticado em praças e os 27 jogadores de cada equipe deveriam levar a bola até os dois postes que ficavam nos dois cantos extremos da praça. A violência era muito comum, pois os participantes levavam para campo seus problemas causados por questões sociais típicas do medievo.

O barulho, a desorganização e a violência eram tão grandes que o rei Eduardo II teve que decretar uma lei proibindo a prática do jogo, condenando à prisão os praticantes. Porém, o jogo não terminou, pois integrantes da nobreza criaram uma nova versão, com regras que não permitiam a violência. Nesta nova versão, cerca de 12 juízes deveriam fazer cumprir as regras do jogo.

Agora, voltamos para o futuro. Para 2009. Semelhanças com a violência medieva, acima descrita, não são meras coincidências.

Rio de Janeiro. Flamengo campeão brasileiro. Muita alegria. Muita selvageria na entrada do Maracanã, na saída, na comemoração no Leblon e em Ipanema.

Santos. Um jogo quase sem torcida. Selvageria na briga entre torcidas nos arredores da Vila Belmiro.

Porto Alegre. O jogador do Grêmio que fez o gol contra o Flamengo, na chegada à cidade, foi hostilizado, acossado pelos torcedores do clube, pois isso favoreceria o Internacional na briga pelo título.

São Paulo. Vagner Love, em uma agência bancária, foi intimado por três torcedores para que o negão começasse a fazer gols, senão…

Curitiba. Invasão do campo do Coritiba FC por centenas de vândalos que protagonizaram cenas absolutamente repugnantes de violência sem propósito. Dezessete feridos, sendo três em estado grave. Destruição do patrimônio do clube. Destruição de uma imagem de um povo supostamente pueril, civilizado aos olhos do Brasil e do mundo.

Cidade-modelo para o Brasil. Modelo e microcosmo de como um povo, ao se acostumar em maquiar e esconder a realidade, simplesmente arma uma bomba-relógio, condensando energia para que seja detonada quando menos se espera.

Décadas de passividade social, impunidade e condescendência, somadas ao déficit de cidadania – algo que apenas recentemente começamos a construir – são o meio de cultura da violência e revolta que o Brasil favorece, em geral e, em particular, o futebol, de vez em quando, torna visível através destas demonstrações de estupidez coletiva.

O país dos direitos para todos, da Constituição-cidadã. Obviamente, ninguém, muito menos as novas gerações, querem ter obrigações.

É muito melhor agir como crianças que escondem doces e brinquedos – quando adultos, escondem dinheiro – nos bolsos e nas meias, pois sabem que os pais fingem que não sabem e não haverá punição.

Lembrando palavras recentes do nosso colunista Oliver Seitz, a Copa de 2014, no Brasil, vai acontecer, inevitavelmente. Mas ela pode ser bem perigosa para os brasileiros e para os estrangeiros que virão.

Bom. Sabemos identificar os problemas. Necessitamos ter a capacidade para superá-los. Não pela Copa 2014, mas pelo nosso povo.

Senão, como se diz em espanhol, Cría cuervos, y te comerán los ojos…

Viva o país do futebol!

Viva o país da Copa 2014!

Viva o povo brasileiro!

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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