Prepare-se. É bem possível que aquilo que você vai ler a seguir não se encontre em nenhum outro lugar. Nenhum.
Primeiro, porque envolve uma informação retirada de um cartaz de propaganda de um jornal que ficava do lado da porta de um trem e foi vista por mim em 2008, quando ia de Narborough, uma pequena vila do condado de Norfolk, para Londres. Não sei exatamente como, tampouco a razão, mas fiquei com aquela propaganda na cabeça até hoje. E segundo, porque envolve experiência pessoal, que permite contextualizar a razão das ações.
Esses dois motivos somados me permitem sugerir, mas não afirmar, que a história de que o Robinho está voltando para o Brasil por conta da tática que os técnicos usam é a mais balela.
Não conheço o Robinho. Não sei o que ele pensa, tampouco como age. Porém, as coincidências são tão grandes que não há como não imaginar que esse discurso é ensaiado.
A propaganda do jornal no trem, creio que era do ‘The Times’, listava uma série de fatos curiosos e banais e dizia que quem lesse o jornal saberia dessas coisas. Você pode até argumentar que é uma propaganda idiota, mas um ano e meio depois ela ainda está na minha memória. Tudo por conta de um dos itens da lista, que dizia: ‘Você sabia que o dia XX de janeiro é o dia mais deprimente da Inglaterra?’.
Eu nunca me lembrava que dia era esse exatamente. Até o momento em que eu vi que Robinho queria sair do Manchester City. E vi a entrevista dele falando sobre a volta ao Brasil, em claro tom de alívio. A primeira nota a respeito que li, foi no dia 21 de janeiro, logo a notícia é do dia 20.
Algumas palavras jogadas no Google, em sites de jornais ingleses e está lá: o dia mais deprimente da Inglaterra é a terceira segunda-feira de janeiro, também conhecida como ‘Blue Monday’. Em 2010, foi dia 18 de janeiro. Dois dias antes do manifesto interesse de Robinho em voltar ao Brasil. Que, curiosamente, também foi próximo do dia que o Anderson faltou ao treino do Manchester United. A depressão inglesa, portanto, parece ter desempenhado um papel fundamental nessas ações.
Porém, isso está longe de ser algo cientificamente confiável. Muito pelo contrário. A definição da ‘Blue Monday’ é fruto de um release que colocava uma fórmula científica completamente sem sentido, feita por um cara totalmente desconhecido que era meio-professor de uma universidade galesa. Soube-se depois que o release foi obra de um canal de televisão especializado em viagem, o Sky Travel. A equação que determinava qual era a data mais deprimente da Inglaterra era desprovida de qualquer nexo e levava em conta variáveis como tempo ruim, dívidas contraídas no final do ano, resoluções de ano novo já descumpridas, distância para o dia do pagamento, distância do Natal e a ânsia pra tomar alguma ação. Uma equação cientificamente idiota.
Mas que, pelo menos, dá uma referência sobre o que é viver na Inglaterra nesse período.
E eu posso dizer, por experiência pessoal, que morar na Inglaterra não é fácil. E quanto mais para o norte, como é o caso de Manchester, pior. O céu é incrivelmente cinza, a comida é ruim, a temperatura é baixa e o comportamento das pessoas é um tanto quanto violento. Não dá a menor vontade de fazer nada. Para piorar, em janeiro, o sol aparece umas 8h30 – 9h, e some às 16h30. Isso quando ele aparece.
E para piorar mais um pouco ainda, esse é o mesmo período em que todos os seus amigos brasileiros estão de férias, na praia, falando do sol, da cerveja e das outras coisas inclusas no pacote. E você vendo tudo isso pela câmera do computador. Na escuridão das 17h.
Uns alegam que o Robinho e o Anderson são pouco profissionais. Que ganham muito dinheiro e deviam se esforçar um pouco mais. Concordo. Mas também entendo o que eles passam. O tempo frio te faz refletir bastante. Eventualmente, você chega à conclusão que significativas horas de sol a mais valem mais do que alguns milhões na conta. Obviamente que eu nunca refleti sobre isso, mas enfim.
Clubes ingleses, por tradição, pouco se importam com seus jogadores. Eles pagam o salário e, de resto, cada um que se vire. Não é a toa que são raríssimos os casos de jogadores latinos que se dão bem no futebol inglês. Os que se adaptam são mais raros ainda. Tevez, por exemplo, está longe de estar feliz na Inglaterra. Na mesma entrevista que ele chamou o Gary Neville de puxa saco do Ferguson, ele também declarou que apesar de estar a quatro anos na Inglaterra, não fala uma palavra em inglês. E também que está louco de vontade de sair de lá.
Ouvi alguém dizer que o jeito que o Tevez joga em relação ao Robinho mostra que os argentinos são mais profissionais que os brasileiros. Talvez. Mas casos como Crespo e, principalmente, Verón, que foram tão ou mais decepcionantes que Robinho, mostram que o buraco é muito mais embaixo. Mostram que o problema está longe de ser pessoal, mas sim ambiental.
Se ao menos os jogadores pudessem seguir a típica tradição britânica e pudessem descarregar a depressão do inverno na cerveja… Nem isso. Coitados.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br