Tudo que acontece na vida de todos é resultado de uma combinação de incontáveis e imensuráveis fatores. E como ninguém consegue identificar e muito menos controlar esses fatores, tudo o que você pode fazer são apostas de que as coisas irão acontecer a seu favor. E, como são apostas, não dá pra prever o resultado final, então você tende a agir de maneira que as probabilidades de que as coisas aconteçam a seu favor sejam maiores.
Uma família, por exemplo, tende a querer que seu filho seja uma pessoa bem sucedida econômica e emocionalmente. Como ela não tem como determinar que isso vá acontecer com plena certeza, ela faz apostas que favoreçam esse resultado final. Para isso, por exemplo, a família busca colocar o filho nas melhores escolas e fazer com que ele frequente círculos sociais que lhe permitam desenvolver os valores que a família acredita que melhor contribuirão para o seu futuro. Entretanto, mesmo que a família siga essa cartilha, é impossível determinar que o filho será de fato uma pessoa bem sucedida.
Pessoas que frequentaram ótimas escolas e fizeram parte de círculos sociais muito bem sucedidos podem, eventualmente, ser fracassadas econômica ou emocionalmente. Assim como pessoas que frequentam escolas sofríveis e frequentam círculos sociais fragmentados podem se dar muito bem na vida. A questão é a probabilidade de isso acontecer, tanto pra bem quanto pra mal.
O futebol é igual. A quantidade de variáveis que incidem sobre uma partida é tão grande que ninguém consegue prever exatamente qual vai ser o resultado. Tudo o que você consegue fazer são apostas em fatores que tornarão mais prováveis a obtenção de um resultado favorável. É um jogo de números. Ou melhor, é um jogo de porcentagens. Toda vez que eu vejo o replay de um gol eu fico me perguntando qual era a probabilidade de aquele gol acontecer. Um chute que passa por baixo da perna de um zagueiro, bate no lado de dentro da trave, toca nas costas do goleiro e entra é resultado de uma combinação favorável de uma infinidade de variáveis. Se a bola tivesse sido chutada com um desvio de 0,1 grau, ela teria batido na perna do zagueiro e ido pra fora.
Se ela ainda assim passasse por baixo da perna do zagueiro, bateria na parte central da trave e rebateria para uma área do campo que não teria ninguém. Se nada disso acontecesse e o goleiro tivesse usado um pouco menos de impulso no pulo, ela não teria rebatido em suas costas.
Apesar de esse lance parecer algo extremamente complexo, lances mais corriqueiros também são resultados da mesma combinação de infinitas variáveis. Quando um jogador cruza uma bola na área e outro cabeceia para dentro do gol, qual era a probabilidade de o cruzamento ter sido feito naquela mesma altura, força e direção? Qual era a probabilidade de o cabeceador chegar na velocidade certa e posicionar a cabeça na direção correta para que a bola fosse a uma posição que se o goleiro tivesse um passo para o lado ele conseguiria defender? E se as probabilidades são tão distintas, por que os mesmos times conseguem ganhar mais partidas do que os outros?
A resposta é sempre a mesma: probabilidade. Se você comprar um juiz, por exemplo, não quer dizer que você vá ganhar uma partida, apenas que você terá maior probabilidade de vencê-la. A mesma coisa acontece quando uma equipe joga em seu estádio, quando a torcida faz foguetório na frente do hotel, quando o outro time faz declarações provocativas publicamente, e assim por diante. No futebol, e na vida, não existem fatores determinantes. Apenas medidas para aumentar a probabilidade de que aquilo que você quer que aconteça de fato aconteça. E tudo o que você pode fazer é trabalhar a favor do aumento das probabilidades. E também saber que aquilo que acabou de acontecer, seja algo positivo ou negativo, é também fruto da probabilidade. E que independe única e exclusivamente do seu controle, que no fundo pode ter tido apenas uma mínima influência em todo o processo.
O problema é quando alguém deixa de reconhecer isso. Quando se muda tudo por conta do desacerto do provável. Quando se põe por terra um trabalho que provavelmente estava certo em favor da mínima chance que deu errado. Decisões são tomadas acreditando que o que está certo está certo e o que está errado está errado. Que não há espaço para a influência da variável que não foi prevista. Que está tudo sobre controle.
Não. Não está tudo sobre controle. É impossível estar tudo sobre controle.
Aceitar isso é fundamental para a melhor compreensão do funcionamento das coisas.
E, certamente, faz com que você seja uma pessoa muito menos estressada, principalmente com o seu time.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br