A final de um time só: equívocos no processo de formação de jogadores de futebol

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Existem infinidades de questões que podem ser exploradas quando o tema em debate é o futebol de base

Das dimensões que envolvem o processo pedagógico, às que exploram aspectos bioquímicos e fisiológicos do jogador em formação, é ponto pacífico que nas categorias de base no futebol objetiva-se a formação de jogadores capazes de lidar com aspectos centrais do jogo, e outros tantos que estão ao seu entorno.

Muitas empresas sérias no Brasil têm investido grande soma em estrutura, equipamentos e profissionais de excelência para encontrar e desenvolver talentos, que em médio e longo prazo se transformem em jogadores de grande expressão no cenário mundial do futebol.

Essas empresas superam grande parte dos tradicionais clubes de futebol no país, dentre outras coisas, porque fundamentam seu trabalho em uma organização profissional, que é totalmente desvinculada dos “achismos” e vícios fincados no futebol, e é sustentada por profissionais gabaritados que possuem conhecimento “técnico-prático-científico” de alto nível.

A formação de um jogador de futebol é algo que transcende aos treinos de campo, e de maneira multi, inter ou transdisciplinar (dependendo do modelo que cada clube ou empresa formadora estabelece para o processo) abarca (ou deveria abarcar) o desenvolvimento pessoal total e completo do jogador, como ser humano que é.

Isso quer dizer que a responsabilidade, na gestão do jogador e no seu “crescimento total”, de um clube ou empresa que investe no processo de desenvolvimento de jogadores de futebol, é muito grande, e eu diria determinante para o sucesso deste processo.

Isso parece óbvio, mas não sei se todos os clubes envolvidos com a formação de jogadores realmente sabem disso.

Nesta semana, um tradicional clube de futebol de São Paulo deu um mau exemplo sem tamanho e precedência em sua também tradicional história: sua equipe sub-17 deixou de comparecer a um importante jogo porque três dos seus jogadores juvenis estavam suspensos (quatro cartões amarelos e um vermelho – punição como cumprimento às regras da competição).

O resumo da história é simples. Três jogadores suspensos e uma final de campeonato. O clube em questão tentou reverter a suspensão (ou melhor, alterar o regulamento da competição) até o último instante. Como não conseguiu, simplesmente deixou de comparecer!

Não compareceu por causa de três jogadores… Claro, como ir à disputa de uma partida de futebol se três dos seus vinte ou mais jogadores não poderiam estar presentes como titulares?

Ainda que fossem Pelés, Maradonas, Zicos ou Garrinchas (os jogadores suspensos eram dois atacantes e um meia), não vejo como justificar (especialmente em se tratando de categorias de base e formação) para os demais jogadores do grupo, que a equipe não disputaria a final do campeonato porque três jogadores estavam suspensos (como resultado de ações de responsabilidade de cada um deles).

Ora, se eram imprescindíveis ou insubstituíveis, por que os gestores da equipe não se preveniram, por que não se prepararam para poupar os ditos jogadores? Ah, planejamento, onde estás que não te vejo?

E que fique claro, falta de planejamento não é o problema!

O problema é a mensagem implícita que se esconde atrás dessa ausência a uma final de campeonato, que diz aos outros jogadores do grupo: “vocês não servem para nada sem os três suspensos”. Ou que diz aos três suspensos: “toda a equipe depende de vocês, sem vocês não temos um time”!

Onde e que valores norteiam o processo de formação desses jogadores?

Realmente é uma pena que o desenvolvimento de atletas nas categorias de base ainda seja tratado dessa forma. É uma pena que já nessas categorias aqueles que deveriam servir de exemplo tentam descumprir com regras, ou ainda manipulá-las ao bel prazer…

Ao menos para os que foram assistir à final de um time só, a certeza de que ela realmente seria de um time só, pois como haveria de ser diferente se o adversário não se apresentara ao “campo de batalha” porque estava com medo? (era isso que diziam, que só podia ser medo).

Nesse episódio, a imponência alviverde (ops?! – será que entreguei qual era a equipe?) sucumbiu às decisões duvidosas de um processo de formação de jogadores que agora também me deixa dúvidas.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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