Por que o futebol não sai da Globo?

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Se você está lendo esse texto, você gosta de futebol.

Se você gosta de futebol, você acha que todo brasileiro gosta de futebol.

E se você acha que todo brasileiro gosta de futebol, você também acha que o futebol é um baita produto de televisão, afinal todo mundo assiste.

Entretanto, é bem possível que, se você faz uso dessa lógica, você esteja bastante errado.

Não no seu gosto pelo futebol, é claro, mas em acreditar que todo mundo também gosta de futebol.

Essa é uma antiga mentira criada pelo Getúlio Vargas que, com seus 1,60 metro de altura, tinha pernas curtas.

Desde que o pequeno presidente subiu nas tamancas do poder, o futebol foi enfiado goela abaixo da população, ainda que esta não tenha reclamado. Mas se fez acreditar que o futebol é muito mais popular no Brasil do que ele realmente é. E é por isso que ele não sai da Globo. Porque se ele sair, a sua já questionável popularidade vai ficar menor que o nosso pequeno revolucionário supracitado.

A grande sacada do futebol europeu foi levar o futebol para a tv paga. Como as pessoas só conseguiriam assistir futebol assinando o canal, elas pagavam pra isso. Ganharam as empresas de televisão, que popularizaram suas plataformas, e ganharam os clubes, que ganharam muito mais dinheiro com os contratos de exclusividade com essas empresas.

No Brasil isso não deu e ainda não dá muito certo. As pessoas, ao que tudo indica, não querem pagar para ver futebol. Veem porque está lá. Em dias de futebol, a audiência da Globo em geral cai. E a dos outros canais aumentam. O futebol na tevê aberta – que é o que realmente agrega audiência – afasta espectadores. Por isso o futebol precisa da Globo, porque o canal carrega consigo uma audiência fiel e natural. Porque se ele for pra outro canal, uma grande parcela do já pequeno público vai deixar de assistir. E se isso acontecer, o já minguado dinheiro de patrocínio vai sumir. E se a Globo resolver promover exclusivamente o vôlei, por exemplo, a onipresença esportiva do futebol pode ser ameaçada. Mas, acima de tudo, porque ninguém mais tem dinheiro para pagar ao futebol o que a Globo paga hoje.

Achar que a Record irá, eventualmente, entrar em uma briga com a emissora carioca pelos direitos do Campeonato Brasileiro me parece meio fantasioso. Primeiro porque, como dito, o futebol não atrai tanta audiência assim na televisão aberta para justificar qualquer leilão. E segundo porque o futebol é produto de televisão paga, e a Record não tem canal de esportes pago. Ou seja, não apenas ela teria que comprar os direitos, mas também teria que investir uma boa grana em montar uma estrutura para criar um canal que talvez nem seja aceito pelas duas maiores plataformas de televisão fechada do país, que têm participação da Globo.

Ou isso, ou ela tentaria revender os direitos para a ESPN, o que parece ser bem complicado, ou para a própria Globo, o que seria uma piada.

Pior. A história mostra que quando direitos de transmissão são superinflacionados por um canal que não possui a estrutura necessária para a difusão correta, ou então quando o próprio produto não colabora, as chances de o canal comprador quebrar são grandes. Procure os casos da ITV Digital e da Setanta. São casos claros do risco envolvido nesse tipo de operação.

Além de tudo isso, você também pode adicionar teorias conspiratórias sobre o poder de investigação jornalística daqui ou de acolá, que certamente colabora, mas não parece ser determinante para que o conservadorismo dos direitos impere.

A hora que a Globo tinha para perder os direitos já passou. Era lá em meados dos anos 90, quando ela de fato chegou a quase perder uma coisa ou outra. Mas agora não parece que vá acontecer novamente. A verdade é que, pelo menos em relação ao Campeonato Brasileiro, aparentemente o futebol precisa mais da Globo do que a Globo precisa do futebol.

A pergunta, portanto, não deve ser por que o futebol não sai da Globo, mas o contrário. Por que, afinal, a Globo não larga o futebol?

Isso é assunto pra uma futura coluna.

E eu não tenho muita certeza se conseguirei responder.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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