O brasileiro partido ao meio

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O povo brasileiro tem esperança, fé e religiosidade.

O brasileiro é homem bom, cordial e festeiro.

O povo brasileiro costuma acreditar em tudo, também num futuro melhor.

Tanto, ao ponto de ser facilmente enganado pelo canto da sereia que vem das urnas, de dois em dois anos.

O brasileiro tem uma grande paixão: futebol. Dizem as pesquisas que somos 75% os que gostam desse esporte.

Esse é o lado otimista da história.

O lado que ofusca um país, com patriotismo de ocasião, a cada quatro anos, às vésperas de Copas do Mundo.

O lado pessimista também de cores fortes.

O povo brasileiro não tem e não preserva sua memória, sua história.

O brasileiro que fazer tudo no jeitinho e na malandragem.

Quer levar vantagem em tudo.

O brasileiro não respeita as pessoas, pois as têm como totalmente boas ou totalmente más.

Ou servem ou não servem. Pior, julgando num curto espaço de tempo ou esquecendo os feitos, sem memória – fechando o círculo do pessimismo.

Vemos isso todos os dias nas coletivas de imprensa com treinadores, jogadores, comentaristas, jornalistas ou em programas de TV. A racionalidade é desprezada, em favor do excesso de paixão – positiva ou negativa.

O futebol se esquece do respeito ao homem e do que foi realizado pelas pessoas, mirando apenas o presente.

Um livro excelente de Ítalo Calvino, escritor italiano, chamado O Visconde partido ao meio, aborda, inteligentemente – e destroça – o maniqueísmo reducionista existente na sociedade, alertando ao ser humano para pensar mais e conhecer sobre sua natureza dual.

O Visconde Medardo é um jovem tenente que vai à guerra contra os turcos. No meio do combate, já vitorioso, salta na frente de um canhão inimigo e leva um tiro de canhão que o parte ao meio. Uma metade do Visconde, que foi encontrada por médicos do exército cristão, retorna para casa, totalmente ruim e sombria. Mais tarde, retornará a parte boa, que foi cuidada por monges. É a história de um homem partido ao meio.

O lado bom de Medardo é alguém que se põe a serviço da natureza. Pensa na melhor forma de extrair da terra os alimentos sem destruí-la, está a serviço das crianças e dos velhos, ouve a todos. É amado até o momento em que se torna insuportável: intervém demais na vida das pessoas com opiniões desprovidas de senso crítico.

O “bom” aparenta-se muitas vezes piegas, ridículo e superficial na sua vontade de ajudar e contribuir. E sua ação, mesmo que bem recebida, se torna um transtorno por ser excessiva.

O lado mau produz um outro efeito: todos o abominam, assassino cruel e mesquinho, aqueles que convivem com ele despertam para a necessidade de uma união contra ele, e descobrem que essa união pode contribuir para a melhoria de suas vidas. O egoísmo, a vingança e a perversão da parte má provocam a necessidade de organização em torno dos interesses da comunidade local.

Como existir pela metade?

Muita gente deveria perguntar isso ao espelho.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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