Muito já se discutiu no país sobre o legado que a Copa do Mundo e as Olimpíadas irão deixar. Comenta-se sobre a reforma generalizada na infraestrutura de transporte do país, com aeroportos maiores, melhores e mais acessíveis. Fala-se sobre a melhoria da estrutura urbana próxima aos estádios e da significativa ampliação da rede hoteleira nas cidades-sede. Discute-se os novos parâmetros de segurança da população dentro e fora dos estádios, que, por sua vez, são a herança mais visível daquilo que está por vir.
Tudo muito bonito, tudo muito legal. Mas tudo, ainda, bastante distante. Faltando um mês para faltar três anos e meio pra Copa acabar, pouca coisa foi feita ainda, como qualquer um pode ver. A maior parte das estruturas prometidas foi sequer iniciada. Aeroportos continuam congestionados, apertados e bagunçados. A segurança ainda necessita de respostas mais estruturadas do que o simples combate. E os estádios… bom. Você sabe bem.
Mas talvez a grande herança, o grande legado, que tanto a Copa quanto as Olimpíadas irá deixar para o esporte brasileiro, já se encontra em um estágio bastante avançado: a instalação de grandes players do mercado mundial no mercado esportivo brasileiro.
Se outrora as maiores agências de marketing esportivo do mundo ignoravam o mercado brasileiro, já que a desigualdade social é extremamente elevada, o gasto com lazer é pequeno, a informalidade é gigantesca, o isolamento geográfico é significativo e o fuso-horário é rebelde, agora elas estão com os olhos bem abertos para o mercado. E começam a criar suas bases no país. Afinal, apesar de todos os pesares, não dá pra ignorar um país com 190 milhões de habitantes que hospedará os dois maiores eventos esportivos existentes. Muitas agências virão. Algumas já chegaram. Outras estão a um passo daqui.
Alguns empecilhos surgem, porém. Primeiramente, no momento em que essas agências se instalam, elas não conseguem achar muito que fazer. Como o mercado de mídia é extremamente concentrado e a quantidade de eventos esportivos com apelo popular é bastante limitada, o grande filão das agências, a venda de direitos de transmissão, não serve pra muita coisa. Nesse cenário, o mercado de patrocínio não foge à regra e fica bastante engessado. Sem muitas alternativas, elas recaem no mercado de agenciamento de atletas, que passa por um momento de diversas incertezas.
Porém, apesar de não ter muitas alternativas para atuação no mercado de imediato, essas agências trazem consigo uma expertise de décadas de atuação nos mais diversos cenários mercadológicos. Ao abrir as portas no Brasil, elas trazem para o mercado brasileiro um mundo novo de processos, tecnologias, metodologias e ideias que têm o potencial de elevar consideravelmente o nível das práticas do marketing esportivo no país. Com o tempo, isso vai criando raízes na cultura do mercado local e vai invariavelmente aumentando o padrão de profissionalização dos players, o que tende a apresentar resultados bastante favoráveis para os envolvidos.
Isso já está acontecendo. O movimento ainda é tímido e pequeno. Mas a revolução já começou. Apesar de todas as nossas limitações, um dia ela certamente irá apresentar resultados. Se isso acontecer, pode ser o grande legado dos megaeventos para o mercado esportivo nacional.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br