Onde está o segredo da vitória?
Quando “moleque”, ainda sem nem sequer imaginar que um dia trabalharia, estudaria e pesquisaria futebol, já me parecia óbvio que em um jogo, o melhor sempre venceria o pior. Para mim, estava claro que, fosse no voleibol, basquetebol, futsal, ou qualquer outro jogo, como claro, o futebol, a melhor equipe sempre venceria confrontos contra suas adversárias mais fracas.
Ora, em um campeonato de futebol profissional, por exemplo, sempre haveria três ou quatro equipes que se equilibrariam mais, em que as partidas entre elas poderiam ser ganhas, vezes por uma, vezes por outra, mas que em geral, contra as outras tantas participantes da competição, seria inevitável que vencessem.
O tempo foi passando, e fui percebendo que algumas (ou muitas) vezes nem sempre aquelas equipes, que eram tidas como melhores ao julgamento do senso comum e dos especialistas, eram realmente as que venciam seus jogos contra os adversários tidos como mais fracos (aprendi inclusive o que as tais “zebras” anunciadas pelos comentaristas na TV eram mais frequentes do que deixavam a gente perceber).
Em algum momento, não sei ao certo qual, comecei a notar que, frente a resultados tidos como inesperados (quando o “melhor” perdia para o “pior”), a mais comum explicação que se tinha dos próprios profissionais do futebol era a de que “no futebol é necessário sorte”, ou de que naquele dia “nada deu certo”, ou ainda que “a equipe ‘A’ jogou melhor. Só faltou o gol”.
Só faltou o gol?
Em contraponto a esse tipo de explicação, ouvia com frequência de alguns treinadores que ganhavam um título aqui e outro ali, que o segredo do sucesso estava em trabalhar: “quanto mais trabalho, melhor resultado”.
Muitas vezes esses treinadores também perdiam. Teriam trabalhado menos do que seus pares? E aí, não tinha jeito. A explicação padrão vinha à tona: culpa da arbitragem, dia ruim, falta de sorte, falha do goleiro.
Pois bem. Um dia ficou claro para mim, que algumas coisas deviam estar passando despercebidas ou estavam sendo simplesmente ignoradas pelas pessoas que faziam do futebol sua profissão. Parecia-me óbvio que o êxito ou o fracasso poderiam sim ser controlados em um jogo – ou ao menos, que as chances de um ou de outro acontecer poderiam ser aumentadas (vitória e derrota não eram obra do acaso; ou pelo mesmo não do acaso como era conhecido). Parecia-me óbvio que o desconhecimento sobre como manipular esta “chance” fez surgir a crença de que isto era impossível.
O tempo passou e muitas coisas se transformaram. Cada vez mais pessoas buscaram (e continuam buscando) entender as vitórias e as derrotas no futebol.
O “carro chefe” das investigações, hoje, tem sido o modo de se treinar (de maneira que os debates, sobre o tema, têm se transformado em grandes batalhas). Tenho estudado a fundo o futebol em diversas de suas dimensões. Sou um dos defensores da necessidade de que novos paradigmas emirjam, avancem e se consolidem. Não posso, no entanto, atribuir, única e exclusivamente ao modo de se treinar, a causa da vitória ou da derrota.
Muitos campeões atingiram o topo se utilizando de caminhos bem diferentes – e aí incluo, métodos bem tradicionais de treinamento. Claro, não estou com isso defendendo que qualquer coisa funcione para alcançar o êxito desportivo. O que quero destacar e deixar visível, é que o rendimento no futebol depende ao mesmo tempo de uma série de dimensões, variáveis e fatores.
A compreensão sobre estas dimensões, e o controle cada vez mais fino de um número maior de variáveis pode decisivamente permitir domínio e manipulação dos fatores que levarão à vitória e à derrota. Onde, o que, como, por que, com quem e quando treinar, são algumas das questões que devem ser respondidas, para que dentro de um processo de treinamento que vise a excelência, sejam atingidos os melhores resultados.
E a partir daí, é certo, que dentro do peso que lhe cabe na construção da vitória, o modo como se treina, poderá ser mais, ou ser menos decisivo.
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br