Pelé dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil há mais de 40 anos.
De lá pra cá, muitas crianças se tornaram jogadores profissionais de futebol.
Alguns deles, diz-se, atuaram na época errada, pois, se jogassem hoje em dia, seriam astros muito mais reluzentes do que na década de 1970 e 1980.
A verdadeira internacionalização do futebol foi catapultada pelo mercado de transferências de jogadores, que teve como pano de fundo o Caso Bosman.
Como peça essencial à existência do futebol por si só e, hoje, ao marketing que movimenta milhões de reais, busca-se sempre o próximo ídolo para ocupar as fileiras dos principais clubes da Europa e movimentar toda a engrenagem da indústria do futebol.
E uma consequência direta e natural deste processo é a assinatura de grandes contratos – não só nas cifras envolvidas, mas também nos direitos e obrigações tomados em caráter recíproco.
O problema é que, no Brasil, existe uma grave e triste tendência a se “socializar” a culpa de muita coisa.
Dentre as quais, a de que os jogadores de futebol são explorados por um sistema perverso de abuso, enganação e escravidão, que lhes impende a sujeição às piores condições de trabalho.
Estamos rumando para quase 15 anos de vigência da Lei Pelé que, somada aos Estatutos e Regulamentos da Fifa, ampara as melhores práticas na relação entre jogadores, clubes, agentes e demais autores.
Sem obrigar ao jogador contratos de trabalho ou de representação como se dava à época da Lei do Passe.
Adriano, o Imperador, que conta com Gilmar Rinaldi como seu agente licenciado pela Fifa desde o início da carreira, não vem cumprindo seus últimos contratos até o fim – e já vê, com isso, o fim da carreira se aproximando.
Rescindiu o contrato com a Roma, e logo desembarca mais uma vez no Brasil.
Robinho também sempre esteve envolvido em rescisões antecipadas de contrato.
A mais recente briga é com a Nike, empresa que o patrocina desde os primeiros anos de carreira. Alega que a empresa o enganou, ao vincular a renovação de contrato automática à incompreensão do texto do contrato em inglês, prevalente sobre o português.
Não queremos entrar nos detalhes da contenda judicial – e não devemos – uma vez que a abordagem, aqui, não é essencialmente judicial, é sobre a (in)capacidade de cumprimento de contratos no futebol brasileiro.
Costuma-se tratar tais assuntos com simplismo ou paixão.
Quando surgem com belas jogadas, os jogadores são chamados de “meninos”, e se corre para protegê-los dos zagueiros violentos, além de rasgar elogios pela “irresponsabilidade tática” e talento dentro de campo.
Quando não cumprem os contratos, a “irresponsabilidade contratual” não tem recebido a mesma atenção e cobrança.
Tá na hora de “puxar a orelha” dos meninos do Brasil.
Pois, como dito na frase atribuída a Adriano, o Imperador, quem tem alguns milhões na conta bancária, tem que se preocupar em sentir prazer de jogar futebol, e não com o dinheiro que lhe oferecem.
Também deveria se preocupar em investir na contratação de bons advogados para assessorar as negociações que envolvem milhões com clubes e patrocinadores.
E cumprir estes contratos também…
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