Estamos assistindo a uma dinâmica econômica mundial de crescimento de pequenas economias (ou os chamados países emergentes) que, com algum esforço, têm operado bem seu mercado interno, ampliando divisas e fazendo com que a economia mundial cresça efetivamente. Se dependesse das grandes potências mundiais, o planeta cairia em uma lógica de estagnação, já que boa parte do mercado de consumo e desenvolvimento está centrado nestes famigerados emergentes.
No Brasil, o que tem impulsionado o seu crescimento econômico são as classes sociais da base da pirâmide, contribuindo sobremaneira para a diminuição do abismo social e aumento do consumo por todas essas classes sociais. Tais princípios são igualmente praticados na Índica, Rússia e China que, juntamente com o Brasil, formam os BRIC, conjunto de países emergentes que estão liderando as esperanças de um crescimento global sustentável.
E por uma reflexão bem incipiente, provoco: “não seria esse um caminho a trilhar pela indústria do esporte?”. A lógica de equilibrar a balança entre pequenos e grandes não deveria fazer parte da pauta de discussões de dirigentes esportivos, cultivando sobretudo o crescimento da indústria do esporte e até potencializando as receitas dos grandes?
Muito se fala que mais de 90% dos jogadores de futebol no Brasil ganham menos do que dois salários mínimos como forma de justificar e evidenciar esse abismo entre grandes e pequenos, tratando o fato como um problema de governança por parte das entidades de administração e prática do esporte. Por isso, pergunto, traçando um paralelo: a negociação dos direitos de transmissão, privilegiando o pensamento individual em detrimento do coletivo, não estaria na contramão da lógica econômica mundial, conforme comentado anteriormente?
Em um raciocínio bem simplório, a ascensão de pequenos e médios clubes, tornando-se economicamente mais equilibrados, poderia resultar em:
a) Melhor qualificação dos recursos humanos, como os jogadores;
b) Haver material humano melhor e mais acessível para os grandes clubes;
c) Relações comerciais mais confiáveis entre grandes e pequenos – na permuta de jogadores, por exemplo, com menos riscos para ambas as partes;
d) Ampliação do faturamento de toda a indústria de maneira equilibrada e em escala conjunta, inclusive para os grandes clubes, já que estes dificilmente perderão seu status de players do mercado por terem grandes marcas – e grandes marcas não se constroem do dia para a noite. Pequenos e médios clubes poderiam se aproximar a um patamar aceitável, que só faria bem para a indústria como um todo;
e) Segmentação por interesses e acesso ao lazer, uma vez que temos um país de dimensões continentais – seria a lógica do supermercado: as grandes redes se sobressaem em relação aos pequenos mercados por competitividade, lastro para oferecer melhores preços, melhor localização, marca etc., mas os pequenos vivem muito bem pois as pessoas continuam a comprar lá eventualmente ou com uma frequência aceitável, por suas particularidades e outras facilidades regionais que explicam seu consumo.
Enfim, a exposição da ideia tem mais um interesse provocativo, uma vez que parece utópica no universo de clubes, ligas, federações e confederação em que vivemos.
O fato é que não podemos negar a força dos grandes – e não é isso que pretende o texto. Mas privilegiá-los de forma quase que canibalesca em relação aos demais me parece um tiro no pé. Ninguém joga um campeonato sozinho. A competitividade (equilíbrio competitivo), juntamente com a figura dos ídolos do esporte, tem se mostrado o melhor produto desta indústria.
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br