Arena quase multiuso

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Na onda da modernização da infraestrutura do futebol nacional, além dos atrasos em obras desse tipo, outro termo muito em moda é a tal “arena multiuso”, que justifica a construção dos estádios.

Aqui na capital paulista, os três clubes estão trabalhando nessa perspectiva. O Palmeiras com a Arena Palestra Itália, o Corinthians com o tão discutido Itaquerão, e o São Paulo com o seu bom e velho Morumbi.

Pois bem! É com base no clube tricolor que gostaria de ilustrar alguns de nossos textos anteriores nesse mesmo espaço, quando discutimos inovações tecnológicas e ressaltamos que de nada adianta virem aparelhos e recursos de última geração se os processos e pessoas não compreenderem suas reais funções.

Penso que a partir daí podemos ilustrar para os críticos de carteirinha da palavra “processo no futebol” que não é apenas um termo bonito para justificar qualquer coisa, e sim algo que precisa de fato ocorrer para dar sentido às mudanças e inovações que virão.

O São Paulo adota o termo “Arena do Morumbi”, embora muito resistentes, os meios têm noticiado de alguma forma esse caráter que o clube tenta atribuir para seu estádio. Mas fica evidente que o conceito de arena requer mais do que o simples fato de abrigar shows e eventos de grande porte. Sabemos que é necessário pensar em transporte, acessibilidade, conforto, flexibilidade, cronograma de eventos de grande porte. Mas mesmo com isso tão evidente, não entrarei nesse mérito ainda no texto desta semana. Quero chamar a atenção para outro fator.

Se pararmos para observar o estádio da final da Copa do Mundo de 1998, perceberemos que existe um calendário de eventos de conhecimento antecipado, vinculando esporte, shows, espetáculos e exposições. E que nesse calendário tudo se encaixa sem necessidade de ajustes, mudanças, cancelamentos e adiamentos.

Não precisamos sair do país, mas temos de certo modo, como visualizar algo parecido com a Arena HSBC no Rio de Janeiro. O que isso significa? Que tais arenas são entendidas de fato como arena multiuso, nas quais existe uma programação de eventos para uma temporada.

E onde quero chegar com essa discussão?

Justamente naquilo que o São Paulo tem feito com seu estádio, e que pode refletir a mentalidade do que os dirigentes venham a fazer com a Arena Palestra Itália e com o Itaquerão: transformá-los em arenas quase multiuso.

É compreensível, porém inaceitável, ver o São Paulo ter que mandar jogos em Barueri ou outro estádio porque o Morumbi seria usado para shows. Quando digo compreensível, falo pela questão de pôr a conta na ponta do lápis, calcular quantos torcedores o clube arrasta para o estádio, quanto isso traz de receitas e quanto um show traz de receitas para os cofres do clube.

Porém, é inaceitável que o clube tenha de fazer isso, relegando o próprio time para segundo plano.

Um clube de futebol (o São Paulo é apenas tomado como exemplo da mentalidade dos dirigentes brasileiros que agem em sua grande parte da mesma maneira) deve aprender a utilizar esses recursos e infraestruturas que o país vai adquirir, sobretudo com a Copa do Mundo. Fazer um planejamento de eventos vinculado a jogos não é tarefa das mais complicadas, ainda que existam fatores que devem ser um tanto complexos.

Como podemos pensar uma arena multiuso para os estádios se os próprios clubes mantêm o futebol longe do palco principal? Aí já entramos numa questão de gerenciamento mais ampla, que extrapola a discussão das arenas apenas. E tais questões, da forma como são conduzidas hoje, apenas justificam e dão razão para tirar o jogo do clube de seu estádio para cedê-lo a outro espetáculo – afinal, se meu time não é capaz de atrair torcedores, ou seja, não se consolida como espetáculo, é sem dúvida muito mais fácil trazer o U2.

O receio é que daqui a pouco os dirigentes acreditem que possam fazer o Bono Vox virar jogador de futebol e anunciá-lo como contratação…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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