Em tempos de transição dos campeonatos estatuais para o Brasileirão, alguns cuidados podem ajudar a preservar a integridade dos jogadores. Em meio às transferências e reformulação de elenco, equipes eliminadas precocemente dos regionais, da Copa do Brasil e da Copa Libertadores podem sair com vantagem.
Jogadores mais descansados e maior tempo de preparação permitem começar o Campeonato Brasileiro em ritmo mais forte. Para os que disputaram mais de uma competição simultaneamente iniciam mais fracos e naturalmente têm maior desgaste. A estes, o rodízio entre jogadores e a utilização de estratégias que aceleram a recuperação são alternativas para se evitar a fadiga, lesões e queda de rendimento.
A busca pelo máximo desempenho exige incrementos nas cargas de trabalho que, quando assimiladas, provocam melhorias. Contudo, à medida que o número de jogos por semana se eleva, só há tempo para recuperar o atleta. A tentativa de fazê-los melhorar pode levá-los do estado de overreaching para o overtraining. O primeiro refere-se a uma condição aguda (dias ou semanas) em que o atleta responde de forma ótima aos estímulos (treino). O segundo é uma condição crônica em que o indivíduo responde de forma negativa às cargas de trabalho.
Entre os sinais e sintomas do overtraining, encontram-se as alterações fisiológicas (aumento da atividade simpática, redução da atividade parassimpática, redução da frequência cardíaca de repouso, submáxima e de recuperação; aumento do consumo de oxigênio submáximo, redução da capacidade de trabalho, redução do peso corporal, insônia, distúrbios gastrointestinais, dores e lesões no aparelho locomotor, maior sensação de fadiga), bioquímicas (redução do glicogênio muscular, aumento do cortisol, redução de minerais e da densidade óssea), psicológico-comportamentais (depressão, apatia, mau-humor, medo de competir, queda da auto-estima e da autoconfiança), imunológicas (alergias, resfriados e infecções), as quais provocam queda de rendimento (redução da coordenação, da habilidade técnica e da força muscular).
Para evitar o overtraining recomenda-se monitoração constante de todas as variáveis e, quanto mais cedo a identificação do problema, menor será o risco para os atletas.
Entre as ferramentas para o diagnóstico encontram-se questionários de humor (POMS), de recuperação de treino (RESTQ) e de qualidade do sono; exames de sangue para dosagem hormonal e imunológica (linfócitos e eusinófilos); acompanhamento nutricional e observação permanente do atleta.
Outra recomendação é a monitorização diária da variabilidade da frequência cardíaca pelo intervalo de pulso para obtenção dos parâmetros de domínio do tempo (SDANN, RMSSD, NN50 pNN50) e da frequência (LF, HF, LF/HF), verificação do balanço simpato-vagal e diagnóstico de hiperatividade simpática.
Tendo em vista que nem todos os sintomas aparecem ao mesmo tempo na mesma magnitude e que cada ferramenta exige determinado conhecimento, dispêndio financeiro, equipamento e tecnologia disponíveis, caberá a cada clube definir os parâmetros que são mais ou menos importantes para fazer a escolha de quais variáveis deverão ser monitoradas com maior ou menor rigor ao longo da temporada.
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Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br