Quem não ajuda não atrapalha

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No auge da minha preguiça infanto-juvenil, quando eu não queria ajudar nas tarefas de casa e ainda zanzava pela casa com o chão molhado, logo alguém disparava: “Sai daí! Quem não ajuda não atrapalha”.

Sei que as coisas que vivi com minha família não importam muito neste momento, mas como o assunto desta semana é flexibilidade, ao invés de afirmativa, podemos colocar o ditado na interrogativa: “Quem não ajuda não atrapalha?”.

Definida como o maior grau de amplitude que uma ou mais articulação(ões) pode(m) atingir, a flexibilidade é considerada uma capacidade motora condicional à qual pode ser melhorada por meio de alongamentos realizados de forma passiva, ativa ou balística, com freqüência de 2 a 3 vezes por semana e duração de 30 segundos por grupo muscular.

Embora muito utilizado nas sessões de treino como estratégia de aquecimento, pelo fato de a flexibilidade não ser a capacidade física mais importante para o desempenho do futebol, quase sempre ela acaba sendo negligenciada. Calendário apertado, falta de planejamento, sensação de desconforto, falta de aderência dos atletas, falta de cultura deste tipo de treino, prioridade das sessões de treino para outras capacidades motoras e interferência desta capacidade física na força e na velocidade são os principais fatores que fazem da flexibilidade não ser priorizada.

Apesar de o alongamento ter se tornado uma forma universal de aquecimento e de resfriamento (ou volta a calma) para quase todas as atividades, cientificamente esta prática apresenta grandes controvérsias. Embora parte das controvérsias seja explicada pelas diferentes metodologias, medidas e amostras empregadas em cada estudo, ao contrário do imaginário popular, além de não haver evidências suficientes de esta prática prevenir lesões, também não há consenso se ela melhora o desempenho de todas as tarefas.

Estudos recentes têm evidenciado que o alongamento em grandes amplitudes, além de não ajudar pode prejudicar o desempenho, especialmente em tarefas de potência que necessitam da utilização do ciclo alongamento encurtamento de ações musculares excêntricas. A alteração do limiar de excitação dos mecanoceptores e o retardo na restituição de energia elástica são os principais mecanismos que justificam a piora do desempenho. Além disso, retardo no chamado reflexo H ao invés de prevenir lesões pode aumentar a incidência.

Em termos práticos, para se aplicar um treino de flexibilidade com segurança, o conhecimento da comissão técnica sobre o assunto, a idade dos atletas, o estado de condicionamento, o hábito de cada atleta treinar ou não flexibilidade ao longo da carreira, a existência de desequilíbrios musculares, assimetrias de cada jogador e a quantidade de sessões semanais disponíveis para treino são os fatores que devem ser considerados.

Na tentativa de direcionar o que deve e o que não deve ser feito no treinamento, elaboramos o quadro abaixo resumindo as principais recomendações e precauções que deverão ser tomadas.


 

Pelo exposto até aqui, tratando-se de flexibilidade, concluímos que dependendo da forma como o treino é ministrado. o ditado popular pode ser facilmente alterado para “Não ajuda e atrapalha”.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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