Em um fim de semana no qual vimos uma verdadeira febre relacionada à final da Champions League, o técnico do Manchester United, Sir Alex Ferguson, há 25 anos no clube inglês, deu um exemplo do motivo que o faz perpetuar no comando da equipe nesse longo período.
Com uma simples frase de que a derrota foi justa e que o Barcelona é o melhor time que ele enfrentou em toda sua vida, fica nítido, ou pelo menos entendo desta forma, o modelo de gerenciamento baseado na transparência e nos objetivos traçados com coerência e discernimento.
Transparência porque tanto clube como dirigentes ao longo desses 25 anos sabem que o time passaria, passou e ainda passará por inúmeras reformulações. Os resultados nem sempre vieram em todas as temporadas – houve momentos de transição, que seriam aquelas de montagem e ajuste de elenco, e os dirigentes souberam entender, assim como o técnico com certeza traçou os limites que seriam alcançados.
Trago esse tema para reforçar o que sempre dissemos por aqui. De nada adianta recursos tecnológicos de ultima geração que ajudem a preparar , planejar, avaliar e tomar decisões, se tudo isso não tiver respaldo e coerência.
Se Ferguson prometesse títulos da Champions toda temporada, com certeza não estaríamos falando de seu longo período. Ou se Ferguson fosse técnico de um time brasileiro, de nada adiantaria ser campeão da Libertadores do ano anterior, se na atual ele não tivesse um desempenho esperado… ainda que estivesse em andamento (vide o caso do Inter-RS).
Assim retomamos a discussão: ser campeão é o único resultado que existe? Muitos dizem categoricamente que sim, e ficariam indignados com esse texto, encerrando a leitura por aqui. Mas peço para que esses ao menos terminem os parágrafos seguintes para entender a reflexão.
Resultado em alto nível depende de inúmeros fatores, sabemos disso, não pretendo entrar nessa questão; porém sabemos que um dos fatores que fogem ao controle direto de uma equipe diz respeito ao desempenho do adversário. Podemos estudar, mapear, analisar, mas jamais controlar – ao menos diretamente – o desempenho do adversário.
É justamente nesse ponto que nos referimos à coerência. Ao ter noção disso, um técnico deve ter claro para si que chegar em semifinais ou finais de competição de um nível de Champions League ou de Libertadores, representa uma conquista de resultado significativa, pois você se coloca ali com outras três potências em busca do resultado máximo. Mas a falha nesse objetivo não representa que não se está num nível de excelência.
É esse olhar que precisamos aprender a ter. Olhar o resultado como algo coerente com as situações das competições e ainda atrelá-lo ao momento da equipe. Se a equipe está em formação, por exemplo, uma derrota em uma fase quarta de final pode ser aceitável e não o fim do mundo. Por outro lado, se a equipe está num ponto maduro e perde numa final, também não pode significar esse tal fim de mundo que justificaria o tão em moda choque de gestão, que no Brasil é trocar técnico.
Nesses 25 anos à frente do clube inglês, Ferguson ganhou “apenas” duas Champions Leagues. Imagina aqui no Brasil, a cada queda numa Libertadores…
Em nosso país temos técnicos bicampeões do principal torneio continental sul-americano, como Felipão (Grêmio e Palmeiras), Paulo Autuori (Cruzeiro e São Paulo) e apenas Lula (Santos) e Telê Santana (São Paulo) com dois títulos pelo mesmo clube.
Agora imaginem se tivessem dado a um desses técnicos a oportunidade de ficar um longo período num desses clubes? Será que em 10 anos não viria pelo menos mais um título de Libertadores? Os universos são diferentes, a cultura é outra, mas será que não daria?
O que acham?
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