Copa América de futebol 2011: primeiro raio-x da seleção brasileira de Mano Menezes e o jogo contra a Venezuela

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A atuação da seleção brasileira de futebol não deve ter agradado a maioria dos torcedores, especialistas e pseudo-especialistas em sua estreia contra a seleção da Venezuela, na Copa América 2011.

Com três atacantes, com uma proposta de pressão constante sobre a bola já no campo de ataque, e com a tentativa de tornar velozes as construções e as transições ofensivas, a expectativa sobre o desempenho da equipe do Brasil antes da partida era muito grande.

Pois bem.

O jogo terminou empatado (0 a 0), e as críticas (inevitável) já começaram.

Dentro do Modelo de Jogo proposto pelo Brasil, talvez tenha sido, o início do jogo, o momento de sua melhor expressão.

Tentativas intensas para tentar recuperar a bola, progressões rápidas ao ataque, boa ocupação do espaço e boa mobilidade. Características, comportamentos e ações que foram se diluindo com o tempo e quase desapareceram durante o jogo.

Se compararmos, como exemplo, os mapas de calor do 1º e do 2º tempos de jogo, notaremos a grande diferença na ocupação do espaço entre as duas etapas, e quanto ela (a ocupação espacial) foi perdendo densidade pelas laterais e ficou “pesada” pelo corredor central do campo de jogo.


 

No mapa de calor, cores quentes representam maior concentração de ações e cores frias, menor concentração de ações.

Então, a cor vermelha representa maior concentração de ações do que a laranja, que representa maior concentração do que a amarela, que representa maior concentração do que a verde, que representa maior concentração do que a azul.

Notemos que no 1º tempo da partida, o Brasil conseguiu, de maneira geral, uma ocupação razoável das faixas laterais esquerda e direita na intermediária ofensiva.

A boa amplitude só não foi eficiente porque, além de não estar tão avançada quanto deveria (a ocupação lateral), também não encontrou concentração condizente no corredor central, em regiões mais próximas do gol.

Apesar das infiltrações constantes do jogador Ganso, em tentativas de aproximação do atacante Pato, o desenho tático do Brasil ao atacar (algo próximo de um 1-3-3-4, variando para um ofensivamente mais eficiente, porém com dificuldades na transição defensiva, 1-2-4-4) não conseguiu levar vantagens numéricas setoriais no confronto com o desenho tático venezuelano.


 

No 2º tempo da partida, as regras de ação e de ocupação do espaço do Modelo de Jogo da seleção brasileira se perderam.

Além da dificuldade para atacar a bola (uma dificuldade aparentemente, mais do comportamento individual não condicionado dos jogadores, do que somente da tática coletiva), podemos observar no mapa de calor, na 2ª etapa do jogo, que a estruturação do espaço perdeu em amplitude, volume e proximidade do gol de ataque.

A má ocupação espacial geral fez com que o Brasil tivesse no jogo 83% de aproveitamento nos seus passes (a Venezuela 71%) – e Ganso, que pouco costuma errar, 58% (26 passes/15 acertos).


 

Ao observarmos a posição média dos jogadores do Brasil no 1º tempo, podemos notar que boa parte da amplitude conseguida pela seleção brasileira deu-se principalmente pela participação dos laterais, e que de certa forma o “centro de gravidade da equipe” (leia sobre o assunto – Leitão, R.A.A. O centro de gravidade do jogo e o centro de gravidade das equipes que jogam: a influência dos atratores. Anais do Congreso Internacional de Fútbol de Valencia. 2009) esteve no seu campo de ataque.

O centro de gravidade da equipe no campo de ataque, associado às imagens do jogo, mostra que em boa parte da 1ª etapa o Brasil teve um grande número de jogadores ocupando o espaço ofensivo do campo, o que, além de possibilitar (em tese) manutenção da bola neste setor, poderia facilitar o ataque a bola logo após sua perda.

No entanto, a sincronização coletiva para pressionar a bola, e o hábito não condicionado de pelo menos cinco dos seis jogadores que iniciaram o jogo, propiciaram, sim, algumas vezes recuperação rápida da bola, mas muito distante da meta ofensiva.


 

No 2º tempo do jogo as coisas ficaram um pouco mais difíceis, especialmente porque a ocupação do espaço de ataque piorou, a mobilidade diminuiu, o centro de gravidade “baixou” e a pressão coletiva sobre a bola diminuiu muito em eficácia.

No geral do jogo, diria que ficou clara a proposta e o modelo idealizado por Mano Menezes – me parecem muito interessantes.

Condicionar o comportamento individual e coletivo para credenciar a seleção brasileira a cumpri-lo me parece um problema de tempo.

Da mesma forma, me parece um problema de tempo melhorar a “resistência de concentração” para jogar o jogo que se deseja, em seus 90 minutos.

O tempo, no entanto, é algo escasso no futebol, e especialmente na seleção brasileira, que terá pouquíssimos jogos oficias até a próxima Copa do Mundo (e cobranças estrondosas).

Mano Menezes já mostrou competência em um passado não muito distante para montar boas equipes, conquistar títulos e gerenciar grandes estrelas e torcidas do futebol.

O jogo que a seleção brasileira quer jogar me parece um bom jogo. Mas as únicas seis finalizações que conseguiu na partida contra a Venezuela mostraram que a distância entre o jogo que ela pode jogar hoje, e o jogo que ela quer jogar, ainda é grande.

Para mais informações específicas sobre o duelo em questão, leia o relatório completo da Scout Online. Clique aqui.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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