Durante todo o mês de junho dedicamos espaço para discutir aspectos relacionados à seleção, formação e detecção de talentos. Como, obviamente, um mês não foi suficiente para esgotar o assunto, voltaremos com ele num futuro próximo em período oportuno.
Antes de iniciar com o texto desta semana, primeiro quero agradecer pelos comentários e discussões (presenciais ou à distância) que tive com muitos de vocês, leitores. Por favor, continuem usando esse espaço para interagir colaborando para o nosso progresso.
Voltando para o assunto da coluna propriamente dita, neste mês de julho, aproveitando o gancho da Copa do Mundo de futebol feminino, quero dedicar espaço às mulheres.
Antes que você pense que abordaremos aspectos da regra feminina (menstruação), quero esclarecer que o título da coluna não se refere a nenhum trocadilho e nosso foco será mesmo voltado para a regra do futebol. Não que a interferência da menstruação sobre o desempenho do futebol não seja interessante. Podemos até discutir este assunto numa outra oportunidade, mas é que nesta semana este tópico não vem ao caso. O que desejo mesmo é discutir até que ponto a regra do futebol feminino ser idêntica à do masculino auxilia ou prejudica a modalidade.
Diferente de outros esportes como basquete e vôlei que possuem regras ajustadas para as mulheres (diminuição da altura da rede e da cesta, por exemplo), no futebol feminino não há mudança nenhuma em relação ao futebol masculino. Essa medida, por muitas vezes, torna a modalidade monótona, pouco competitiva e até certo ponto sem graça, pois considerando que as mulheres, por natureza, apresentam maior percentual de gordura, menor estatura, menos força, velocidade, potência e resistência do que os homens, é natural que a dinâmica do jogo seja completamente diferente já que apesar das diferenças gritantes entre homens e mulheres, o espaço, o número de jogadores e o tempo da partida são idênticos entre o futebol masculino e feminino.
Sem adaptações, ocorrem discrepâncias tamanhas as quais geram dois mundos absurdamente distintos. Você já parou para pensar a razão do sucesso ou o fracasso de outras modalidades coletivas serem mais ou menos semelhantes para ambos os gêneros e no futebol ser completamente diferente?
E por que a imprensa discute a convocação de um ou de outro jogador para a seleção masculina, mas nem conhece quem irá para a seleção feminina, nem muito menos onde cada menina joga? Sem falar no tempo e no espaço dedicados ao futebol feminino e masculino na mídia impressa e televisiva.
Não dá para determinar se as discrepâncias entre o futebol feminino e masculino em nosso país são causa ou consequência de fenômenos sócio-econômico-culturais, mas penso que se houvesse algum tipo de ajuste, poderíamos ter efeitos positivos, completamente diferentes do atual.
A figura abaixo representa um círculo vicioso que explica, em parte, os problemas enfrentados pelo futebol feminino.
Não pretendo inventar outra modalidade ou alterar o pensamento e o comportamento da maioria da população, mas talvez se tivéssemos gols, tamanho de campo e o número de jogadoras adaptados de tal modo que deixassem o jogo mais atrativo, ou até mesmo ter incentivo das federações e a obrigação dos clubes em formar e manter o futebol feminino, poderíamos inverter o quadro atual do futebol feminino e quem sabe um dia até ter a atenção da população repartida de forma equânime para homens e mulheres.
Tal mudança provocaria uma série de oportunidades de negócios, geração de mais empregos, alavancagem econômica de clubes e atletas e ao invés do circulo vicioso, poderíamos gerar um ciclo virtuoso.
Sei que esse pensamento pode até ser utópico, mas que seria legal ver jogadoras fazendo propagandas de produtos, valendo os mesmos milhões que os atletas masculinos e provocando as mesmas discussões e brincadeiras de torcedores apaixonados pelos seus times nas versões femininas, ah, isso seria…
Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br
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