O futebol para promoção da saúde das mulheres

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Na última semana terminei o texto da coluna com uma questão: “Será possível o futebol ser utilizado por mulheres como manutenção da boa forma e de parâmetros relacionados à saúde?”.

Como prometido, aí vem a resposta!

Estudo realizado na Universidade de Copenhagen-Dinamarca mostra efeitos positivos da prática de futebol em mulheres e alguns deles são mais benéficos do que a prática de corrida.

Durante 16 meses, 25 mulheres de 19 a 47 anos foram divididas de forma homogênea em três grupos. Um grupo jogou futebol (GF=7), outro praticou corrida (GR=8), e outro não fez nada (GC=7). O treino de corrida constou de duas sessões de uma hora por semana com intensidade próxima a 80% da frequência cardíaca máxima e o treino de futebol contou de uma hora de prática, duas vezes por semana com jogos de 4 x 4 ou 5 x 5, também com intensidade próxima de 80%. Nos momentos 0, 4 e 16 meses do período de intervenção as voluntárias realizaram as seguintes avaliações: mensuração da composição corporal (absorbância de raio x de dupla energia – DEXA), ecocardiografia, avaliação da força muscular, equilíbrio, tempo de reação e amplitude do movimento do tronco, frequência cardíaca, pressão arterial e glicemia de repouso, teste máximo e submáximo em esteira ergométrica e teste de velocidade.

Para o GF a densidade mineral óssea de corpo inteiro foi de 2,3±0,4 e 1,3±0,3% superior (P<0,05) após 16 meses em relação a 4 e 0 meses, respectivamente, porém sem diferenças entre GR e GC. As mudanças observadas na densidade mineral óssea em GF foram maiores (p<0.05) do que no GR. Para GF, a densidade mineral óssea das pernas foi 2,87±0,12 kg após 16 meses, o que não foi significativamente diferente entre 4 e 0 meses (2,76±0,11 e 2,80±0,12 kg). A densidade mineral óssea da perna aumentou de 0 a 16 meses no GR, mas nenhuma mudança foi observada na densidade de corpo inteiro dos 0 aos 16 meses nos grupos GR e GC.

A massa de gordura total não foi diferente em nenhum grupo entre 16 e 0 meses, contudo o percentual de gordura ginóide foi menor no GF (p<0.05) após 16 meses (41,6±1,7%) em comparação com 0 meses (44,1%±1,9). Para GF a massa corporal magra total foi de 1,0 e 1,7 kg maior (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com 0 meses. Nenhuma mudança foi observada na massa magra total de GR nem de GC, porém as mudanças observadas em GF foram maiores (p<0.05) do que em CG.

Nos parâmetros de força dinâmica, o GF teve o pico de força do quadríceps durante ações concêntricas rápidas (240º/s) 17% maior após 16 do que aos 4 meses de treinamento (p<0.05) e 11% maior nas ações lentas após os 16 meses em comparação com os valores basais. Para o GR e GC o pico de força do quadríceps não diferiu nas ações lentas (concêntricas e excêntricas) entre 16 e 0 meses. Já para as ações rápidas, as ações concêntricas de RG foi maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com 4 e 0 meses (20% e 16%, respectivamente). Para os isquiotibiais, o GF apresentou pico de força maior (p<0.05) durante contrações concêntricas rápidas após 16 meses do que aos 4 e 0 meses (14% e 24%, respectivamente), assim como as ações excêntricas rápidas foram 21% maior após 16 meses do que o mês 0 (p<0.05).

Para GR e GC o pico de força não foi diferente entre os meses 16 e 0 para ações concêntricas de isquiotibiais. As ações excêntricas rápidas (240º/s) foram maiores para GR após 16 meses em comparação com 4 e 0 (14% e 12%, respectivamente; p<0.05). Nenhuma diferença significativa foi observada na força máxima de isquiotibiais entre os 16 meses comparado ao mês 0 nos grupos RG e CG. Aos 16 meses houve mudanças na força máxima excêntrica do quadríceps e de isquiotibiais durante os movimentos rápidos no GF maiores do que em GR (p<0.05) sendo que todas as alterações observadas em GF foram maiores do que para GC (p<0.05).

Quanto à máxima contração isométrica do quadríceps o GF teve aumento de 12% após 16 meses em comparação ao mês 0 (p<0.05). Para GF a taxa de desenvolvimento de força (TDF) máxima do quadríceps foi 35% maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com o mês 0, enquanto a TDF do quadríceps aos 30, 50, 100 e 200ms não sofreram alterações em nenhum dos grupos. Para GF e GR o impulso contrátil do quadríceps em 30 e 50ms foi maior (p<0.05) após 16 meses do que aos 4 e 0 meses. O impulso no GF aos 100ms foi maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com 4 e 0 meses em (39% e 41%) e o GR depois de 16 meses em comparação com 4 meses (43%). A contração isométrica máxima de isquiotibiais foi 23% maior (p<0.05) no GF após 16 meses em comparação com o mês 0. Ao comparar 16 meses com 4 e 0, o pico da TDF de isquiotibiais foi 51% e 29%; p<0.05 maior em GF do que nos outros grupos. Nenhuma diferença significativa foi observada na TDF máxima em ações rápidas de isquiotibiais entre 16 e 0 meses nem em RG nem em GC.

Quanto às respostas reflexas, o GF teve o tempo de parada no teste de carga de tronco 27% e 19% menor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com 0 meses, e melhorias na distância de deslocamento do tronco correspondentes a 42% e 28%, respectivamente. Em RG o tempo de parada e a distância percorrida se reduziram em 14% e 29% (p<0.05) após 16 meses em comparação com o mês 0. As alterações observadas em GF foram maiores (p<0.05) do que GC, sem alterações ao longo do tempo para GC.

No teste do equilíbrio em uma perna, o número de quedas durante a posição estática unilateral foi reduzido de 42% e 32% (p<0.05) para a perna direita e 53% e 38% (p<0.05) para a perna esquerda no GF depois de 16 e 4 meses de treinamento respectivamente, em comparação com os valores basais. No GR o número de quedas após 16 meses foi de 38% e 42% menor (p<0.05) para a perna direita e esquerda, respectivamente, sendo que as alterações observadas para GF e GR foram maiores (p<0.05) do que em CG, sem mudanças ao longo do tempo para CG.

Nas variáveis ecocardiográficas, o GC reduziu a velocidade diastólica e o tempo de relaxamento total (0= 10,7±1,8ms; 4meses=8,7±1,8m/s e 16meses=8,3±1,5m/s). O GR melhorou somente a velocidade do pico sistólico (9,1±0,6; 11,0±0,5 e 10,8±0,5m/s aos 0, 4 e 16 meses, respectivamente) enquanto que o GF melhorou aspectos da morfologia e da função cardíaca de quase todas as variáveis, tanto na sístole quanto na diástole. Não houve diferença significante nas variáveis de pressão arterial em nenhum dos grupos.

Nas variáveis cardiorrespiratórias, o consumo máximo de oxigênio foi 14% e 16% maior no GF depois de 16 e 4 meses, respectivamente (p<0.05) em comparação com 0 meses. Os valores correspondentes para RG foram de 13% e 9%. A freqüência cardíaca de repouso foi reduzida em 8 e 4 bat/min (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente com mudanças no GR de 7 e 6 bat/min (p<0.05), respectivamente. As alterações observadas para GF e GR foram maiores (p<0.05) do que em GC sem mudanças para GC ao longo do tempo.

Para GF, o desempenho no teste incremental foi 26% e 22% melhor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com o mês 0. O grupo GR teve mudanças correspondentes de 27% e 22%, respectivamente. Além disso, o desempenho do Yo-Yo IE2 foi melhor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente do que ao mês 0 para GF (24% e 20%) e 29% e 27% para GR, porém sem alterações para o GC.

No tiro de 30m não houve diferença em função do tempo para nenhum dos grupos, porém as mudanças observadas para GF e GR na performance da corrida foram maiores (p<0.05) do que em CG.

O estudo conclui que a corrida é melhor do que não fazer nada, mas que o futebol recreativo praticado em longo prazo é capaz de surtir maiores efeitos em variáveis importantes para a manutenção da saúde e qualidade de vida. Os dados indicaram melhoras de maior magnitude na função muscular, na resposta reflexa, no equilíbrio e na densidade m
ineral óssea do GF, o que contribui para diminuir o risco de quedas e fraturas. Além disso, o treinamento de futebol foi capaz de aumentar o tamanho das câmaras cardíacas, melhorar a função sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo. Essas adaptações de longo prazo podem ter uma influência favorável sobre a saúde cardiovascular e o desempenho físico das mulheres e pode ser utilizado como forma de prevenção de doenças cônico degenerativas não transmissíveis.

Portanto, caro leitor, não estranhe se daqui alguns anos você vir nas praças de sua cidade algumas senhoras jogando futebol e não vá pensar que alguma delas virou ladra se disser pra você que tomou uma caneta…

Obs.: Se alguém quiser o artigo na íntegra para maiores detalhes, é só me pedir por e-mail que o mesmo será encaminhado. Até a próxima quinta-feira!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  

Referência bibliográfica

Krustrup P et. al. Long-term musculoskeletal and cardiac health effects of recreational football and running for premenopausal women. Scand J Med Sci Sports. 2010 Apr;20 Suppl 1:58-71.

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