Em diversas ocasiões, os treinadores têm um tempo relativamente curto para reverterem uma situação desfavorável. A preleção para uma equipe que se encontra na zona de rebaixamento da competição, a conversa no intervalo do jogo em que os jogadores parecem ter esquecido tudo o que foi treinado na semana e, inclusive, uma breve conversa antes das cobranças de penalidades máximas numa partida em que “só” faltou o gol.
Neste pouco tempo, tudo que for pronunciado tem que ser internalizado para que o “jogo jogado” na cabeça do treinador seja o mesmo na cabeça de cada um dos seus jogadores. Muitas vezes, nestas partidas, mais do que usar os minutos que se tem para discutir a tática-estratégia da equipe, usa-se o tempo para questões aparentemente “sine qua non”. Cobranças de atitude, comprometimento, concentração, tranquilidade, foco, coragem, responsabilidade e superação são feitas com o objetivo de melhorar a performance do time.
Enquanto passes errados se quantificam, não se sabe o quanto os jogadores estão comprometidos com suas obrigações profissionais. Enquanto as finalizações erradas aparecerão no canal esportivo no intervalo do jogo, mensurar a tranquilidade da equipe é algo impossível. Conhecer o tempo de posse de bola é seguramente mais fácil do que o percentual de superação da equipe.
Atualmente, métodos inovadores de ensino de futebol têm sido discutidos e aplicados com sucesso, porém, no multifatorial desempenho esportivo, sabe-se que eles não lhe garantirão a vitória. No leque de variáveis, treinar jogando é apenas uma delas. Outra variável, há tempos presente no mundo corporativo (muitas vezes tão distante do mundo do futebol), é a aplicação do Team Coaching.
Resumidamente, o Team Coaching é uma ferramenta de desenvolvimento efetivo de times na busca de um objetivo comum. No mundo empresarial, é missão de diretores, gerentes, coordenadores e supervisores aplicá-lo, para que, ao atuarem como coaches, gerenciem e desenvolvam suas equipes para entregarem resultados.
Já no ambiente esportivo (muitas vezes distante do mundo empresarial?!?!), o coach pode ser o próprio treinador.
A certificação em coaching e as competências para a aplicação do Team Coaching são oferecidas em institutos especializados no Brasil e no mundo. Neles, a observação do estado inicial da equipe e os estágios de formação de times são algumas das ferramentas aprendidas que, posteriormente, serão utilizadas na prática.
A primeira, realizada aconselhadamente com princípios de honestidade, chama-se roda de competências e permite a compreensão do perfil do grupo. Nesta roda, feita individualmente, cada pessoa preenche (sim, com papel e caneta) seu índice (de 0 a 10) em todas as competências analisadas, que são fundamentais para o bom desempenho do time.
Já na formação do time, são aprendidas quais as questões que devem ser trabalhadas em um determinado estágio (formação, conflito, normalização, desempenho, suspensão/término). Por exemplo, no estágio conflito, é momento de encorajar a interdependência entre elementos do time e permitir desacordos produtivos. Já no estágio desempenho, será necessário desafiar o pensamento do time e também propor metas mais desafiadoras.
A execução de todos estes estágios pode durar semanas, dias, horas ou, até mesmo, poucos minutos. Depende, é claro, do coach.
Mas para que melhorar a performance do time? Porque time ideal não existe! Cada um tem seus pontos fortes, que precisam ser extremamente explorados, e pontos fracos, que precisam ser emergencialmente minimizados. E também, porque no multifatorial desempenho esportivo, tudo que puder ser feito para aperfeiçoamento da sua equipe pode lhe proporcionar a esperada vantagem competitiva.
Vocês devem estar se perguntando se eu tenho formação em coaching! A resposta: Não, mas está no meu planejamento de carreira.
No entanto, tive uma grande oportunidade no final do ano de 2010 com o Executive Coach (do mundo corporativo) Rogério M. Z. de Caro. Ser capacitado por ele foi um privilégio e um imenso aprendizado.
Se já tenho um caso de sucesso?
Ainda como técnico do Sub-12, foi definido com o time os cinco grandes pontos fracos:
Três atletas inteligentes para o jogo e habilidosos que discutiam entre si e apontavam erros uns dos outros ao invés de coletivamente tentarem recuperar a bola;
Um atleta importantíssimo que se tornava violento e nervoso quando estava perdendo;
Dois líderes com dificuldade de comunicação;
Fazer com que os suplentes, ainda crianças, não ficassem tristes por jogarem menos;
Dois atletas que tinham medo de errar, logo, eram muito inseguros.
Ferramentas em mãos, várias conversas com meu coach e transferência prática em minha equipe com o auxílio do treinador adjunto.
Em jogos com grandes clubes do futebol paulista, a equipe fez belíssimas apresentações (com exceção do jogo em que o atleta nervoso ofendeu o árbitro) e perdeu na semifinal da competição para o Palmeiras por 1 a 0 com um gol de bola parada, no ângulo.
Continuei sem saber qual a porcentagem de comprometimento dos meus jogadores, o quanto eles se superaram ao enfrentar o campeão paulista do ano anterior (Ponte Preta), ou então, em que nível estavam tranquilos para resolverem os problemas do jogo. Porém, descobri que o Team Coaching faz gols!
Para quem tem me acompanhado com frequência: o espetáculo foi cobrado.
Até a próxima semana e obrigado pelos contatos feitos por e-mail.
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br