Como todos sabem, infelizmente, o Brasil não se sagrou campeão da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Pelo contrário, foi eliminado nas quartas de final pela equipe dos Estados Unidos em um fatídico 3 a 2, com direito a gol no finzinho da prorrogação. Mas, para compensar a tragédia, conquistamos o título de campeões nos V Jogos Mundiais Militares que terminaram no último dia 24 de julho no Rio de Janeiro.
Para quem não sabe, este foi o maior evento militar esportivo já realizado no Brasil com cerca de sete mil participantes (4.900 atletas e 1.800 delegados) vindos de mais de 100 países que disputaram 20 modalidades. O Brasil foi representado por cerca de 250 atletas e, no final, não somente o futebol feminino sagrou-se campeão, mas o país superou a China no quadro de medalhas e conseguiu o primeiro lugar da competição.
Mas será que realmente temos motivos para comemorar?
Ao ganhar o título de primeiro colocado podemos considerar que nosso Exército e nosso Esporte são realmente os mais fortes do mundo?
Como o nome já diz, “V Jogos Mundiais Militares”, era de se esperar uma competição militar, mas o que se viu não foi bem isso.
Com exceção de modalidades exclusivamente militares, vários outros esportes contaram com atletas já consagrados e que se tornaram militares exclusivamente por causa desta competição. Como exemplo desses “atletas-militares”, encontram-se: Flávio Canto (judô), Gabriel Mangabeira (natação), Joanna Maranhão (natação), Valeskinha (vôlei), Jadel Abul Ghani Gregório (atletismo), Vicente Lenílson (atletismo) entre outros.
Mais especificamente relacionado ao futebol, a equipe feminina também contou com a zagueira Tânia Maranhão e a meia Andréia dos Santos (ambas da seleção), que venceram a Alemanha por 5 a 0 na final e ficaram com o título.
Antes de você perguntar que mal há nisso, informo que muitos desses atletas não têm tanta evidência e alguns inclusive já se encontram em fim de carreira.
Sinceramente tenho certo receio de essa moda pegar e as Forças Armadas se tornarem asilo de ex-atletas…
É que no fundo, ao oficializar “atletas-militares”, as Forças Armadas demonstram que não há preocupação em formar militares-atletas. Com isso, permanece o bom e velho jeito brasileiro de resolver problemas imediatos, porém que se acumulam em longo prazo. Porque uma coisa é o sujeito ser militar e se desenvolver como atleta, e outra é o sujeito ser atleta e se tornar militar, pois mesmo com o título, fico me perguntando:
1. Qual a vantagem dessa política imediatista?
2. E de ser campeão destes jogos?
3. A quem impressionamos? Os brasileiros, os estrangeiros, todo mundo ou ninguém?
4. Será que podemos esperar o mesmo sucesso na Copa de 2014?
5. E nas Olimpíadas de Londres de 2012?
6. E em 2016 no mesmo Rio de Janeiro em que acontecerão os jogos?
Sem resposta para algumas dessas perguntas, penso que no final das contas não temos excelência no desenvolvimento do Esporte Militar brasileiro e, além de tudo, as Forças Armadas podem se tornar apenas uma opção para aqueles atletas que queiram prolongar a carreira por mais algum tempo.
E para piorar, nem temos esperança de que a formação esportiva fora das Forças Armadas seja melhorada. Nem no futebol, principalmente o feminino, nem em nenhum outro Esporte.
Para finalizar, só lamento o fato de esses Jogos Militares terem acontecido quase que simultaneamente à Copa América, pois muitos jogadores não puderam ser “recrutados”. Talvez nas Forças Armadas muitos deles demonstrassem mais amor e vontade do que na seleção. Sem contar o aspecto disciplinar. Já pensou todos com barbas e cabelos aparados só se preocupando em servir a nação? Poderíamos nem ganhar o título, mas talvez passássemos à semifinal vencendo a Argélia, que eliminou o Brasil nos pênaltis.
Ih!
Falei pênaltis?
Deixa pra lá vai…
Até semana que vem…
Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br