Em 2006, a seleção uruguaia não figurava entre os países que disputavam a Copa do Mundo do referido ano. Quatro anos mais tarde, após conseguir vaga na repescagem, conquista uma surpreendente quarta colocação sob o comando do técnico Oscar Tabárez, caindo somente nas semifinais diante da seleção holandesa. Em 2011, surpreende também nas categorias inferiores ao alcançar os vice-campeonatos sul-americano e mundial com a equipe sub-17 e ao obter a segunda colocação do sul-americano sub-20.
Na recém-encerrada Copa América, frustrante para os brasileiros mais imediatistas, o futebol uruguaio recebe elogios mundiais ao conquistar o 15º título continental e se tornar o país que mais vezes venceu esta competição.
Por trás dos resultados, obviamente, muito trabalho. Trabalho que abrange a cobrança feita pelo treinador aos dirigentes uruguaios em relação à necessidade de investimentos nas categorias de base, à detecção de talentos em todas as cidades do pequeno Uruguai (3,4 milhões de habitantes), ao planejamento de longo prazo para as seleções menores e à definição e aperfeiçoamento de um time-base vislumbrando resultados como consequência de um trabalho bem estruturado na equipe principal.
O encerramento do ciclo de alguns jogadores na seleção, a promoção de novos talentos e as peças de substituição também são temas do projeto coordenado por Oscar Tabárez e que pode ser acompanhado por entrevistas em diversos meios de comunicação.
Nestas entrevistas, o “pensar” do treinador é manifestado com a utilização de palavras e expressões que deveriam ser multiplicadas no universo do futebol: ser humano, exemplo, educação, trabalho em equipe, evolução e responsabilidade.
O ser humano, analisado não só por sua qualidade técnica ou tática, mas também pelos seus sonhos, desafios e dificuldades. O exemplo que a seleção atual é para as seleções inferiores e futuras gerações do futebol uruguaio ao resgatarem o respeito mundial. A educação, também denominada pelo treinador de formação integral, como meio fundamental para obtenção dos resultados em longo prazo. O trabalho em equipe, muitas vezes esquecido nas gerações anteriores. A evolução, esperada por saber que estava no caminho certo e a responsabilidade de representar a nação que, hoje, sai às ruas não com as camisas de Barcelona, Boca Juniors ou Inter de Milão, e sim com as dos selecionáveis Lugano, Forlán ou Suárez.
Se nas entrevistas fica evidente o “pensar” do treinador, é no campo de jogo que o comportamento dos jogadores traduzirão se, de fato, este “pensar” se transformou no “jogar” de sua equipe. Nas seis partidas disputadas, foram três vitórias, três empates, nove gols marcados e apenas três gols sofridos. O grande jogo antes da final foi, sem dúvida, o duelo contra a anfitriã Argentina, vencido nos pênaltis, após partida impecável defensivamente e nas transições ofensivas, com um jogador a menos desde o final do primeiro tempo.
Entre os gols marcados, três foram feitos por posse em progressão (a partir de penetração, cruzamento e rebote do goleiro); dois por bola parada ( a partir de uma falta lateral e falta frontal); dois por transição ofensiva (a partir de assistência e drible) e dois por transição defensiva (a partir de passe vertical e assistência).
Nos primeiros jogos, o Uruguai foi ao campo no 1-4-3-3, porém, desde o último jogo da fase de grupos, estruturou o espaço no 1-4-4-2 (duas linhas). E, na partida final, conquistou o título sendo superior ao Paraguai durante todo o jogo.
O goleiro Muslera praticamente não foi acionado em situações de proteção do alvo. Agiu principalmente em ações de reposição e em uma interceptação.
A linha defensiva Maxi Pereira-Lugano-Coates-Cáceres não circulou a posse, subiu em bloco ofensivo com os laterais em amplitude e apoio frequentes, foi muito veloz nas transições defensivas, especialmente nas ações de recomposição e fechou todos os espaços possíveis de ação ofensiva paraguaia, ora equilibrando com os laterais a circulação da posse feita pela seleção paraguaia, ora subindo para diminuir o espaço entre-linhas. Nas bolas aéreas, Lugano-Coates foram superiores.
González-Perez-Arévalo-Alvaro Pereira compuseram a linha de meio-campistas. Orientados para recuperação da posse, ou conseguiam recuperá-la, ou apressavam o jogo paraguaio forçando-lhes o erro, nas transições ofensivas, o passe procurava por Suárez ou Forlán, com as subidas dos meias abertos para a construção do jogo ofensivo com muita progressão e rara manutenção; nas transições defensivas, a busca imediata pela posse.
E no ataque, Suárez-Forlán alternavam desmarcações, com Forlán mais próximo à zona de risco e Suárez movimentando muitas vezes nas faixas laterais. Na transição defensiva, queriam a bola e dificultavam a saída jogando do adversário. Defensivamente, a linha 2 foi referência de marcação durante todo o primeiro tempo e, na etapa final, atraíram o Paraguai, recuando mais uma linha. Nas transições ofensivas, Suárez era apoio imediato e Forlán dava profundidade à equipe.
Veja, abaixo, os gols da final da Copa América, com a identificação de algumas falhas da equipe Paraguaia:
Ao perguntarem para Oscar Tabárez se pretende jogar como o Barcelona, ele afirmou que, nas condições do futebol uruguaio, é improvável conseguir tal feito. Como nem todo bom futebol é tão belo quanto o do clube catalão, o do campeão da América merece parabéns e obrigado pelo competente exemplo!
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