O aproveitamento do Corinthians nas últimas oito rodadas do Campeonato Brasileiro foi de 45,8%, com três vitórias, dois empates e três derrotas. O técnico Tite utilizou 22 jogadores nestes jogos, sendo que Júlio César, Alex, William e Danilo atuaram em todos, Leandro Castán, Paulinho, Alessandro, Jorge Henrique e Paulo André atuaram em sete, Ralf em seis, Fábio Santos e Edenílson, cinco, Liedson e Weldon em quatro, Ramón, Emerson, Wallace e Ramirez em três, Moradei, Chicão e Adriano em duas partidas, e Morais apenas em uma.
A manutenção desse desempenho nas oito rodadas restantes não fará com que o título da competição nacional seja da equipe do Parque São Jorge, portanto, nas próximas semanas, as vitórias necessariamente deverão acontecer em maior número. Segundo cálculos feitos pela própria comissão técnica da equipe alvinegra, cinco vitórias e dois empates, ou seja, 17 pontos e 70,8% de aproveitamento dos 24 pontos a serem disputados, são suficientes para a conquista da competição.
Neste período, somente a 35ª rodada acontecerá numa quarta-feira, o que possibilitará sete semanas completas de treinamento com ocorrência de jogos somente aos sábados ou domingos. Semanas “cheias” de treinamento significam um maior período de recuperação entre jogos e maior disponibilidade para a atuação do treinador nos denominados treinos aquisitivos.
Mais do que o desenvolvimento isolado de qualquer vertente do jogo de futebol nos jogadores e na equipe, as próximas semanas devem ser de total preocupação sistêmica com o Modelo de Jogo, seus pontos fracos, seus pontos fortes e as intervenções estratégicas de acordo com cada adversário.
Então, considerando as oito rodadas anteriores da equipe corintiana, o que esperar da mesma nas oito rodadas finais do Campeonato Brasileiro 2011?
Estruturado preferencialmente em 1-4-2-3-1, a espinha dorsal do Corinthians será composta por Júlio César, Alessandro, Paulo André, Leandro Castán, Ralf, Paulinho, Alex, William. As quatro vagas restantes, serão definidas semana a semana pelo técnico Tite que, entre outras decisões, deverá gerenciar as lesões de alguns jogadores e até a pressão da imprensa e torcida por Adriano.
Optar por Emerson e Liedson, que provavelmente perderão muitos treinos aquisitivos por tratarem suas respectivas lesões, ou então por Danilo ou Jorge Henrique, que causam alterações funcionais no sistema corintiano, são alguns dos questionamentos que o treinador terá que fazer.
Na organização defensiva, o comportamento padrão tem sido uma marcação com referências zonais a partir da linha 3, que pode ser adiantada de acordo com o placar do jogo ou atuação como mandante. Nesta fase do jogo, Paulo André e Leandro Castán dão muita segurança à primeira linha defensiva, com ótima proteção do alvo. Ambos, dificilmente caem às faixas e são muito eficientes no jogo aéreo. Com o suporte da linha de volantes, atacar o Corinthians pelo corredor central com passes curtos tem sido muito difícil.
Uma das limitações nesta fase do jogo passa por dar melhor posicionamento a William e Jorge Henrique que, por vezes, assumem referência individual de marcação percorrendo espaços desnecessários (e cansando). Outro ponto que merece atenção, devido à ausência de Fábio Santos, é o desequilíbrio setorial que pode ocorrer caso a função seja feita pelos jovens Weldon ou Ramón.
Em bolas paradas, Júlio César precisa de maior qualidade de antecipação da ação para saídas do gol, e os demais jogadores necessitam maior ataque à bola.
Quando a marcação se inicia na linha 3, a compactação eficaz entre linhas é frequentemente observada. Se, por necessidade ou situação do jogo, a equipe sobe o bloco, surgem espaços (e problemas), principalmente de transição defensiva que serão mencionados adiante.
Ao recuperar a posse, a transição ofensiva é feita predominantemente com retirada vertical. Com orientação operacional de progressão ao alvo, dificilmente circulam a bola. Neste momento do jogo, a partir da recuperação de Júlio César, as reposições são principalmente em bolas longas, o que resulta em maiores perdas de posse do que manutenções. Quando a recuperação é feita pela linha defensiva, falta melhor linha de passe/desmarcação/mobilidade dos volantes para permitir tempo de deslocamento e progressão dos meias abertos que, muitas vezes, estão recebendo a bola distantes do alvo. Apesar destas limitações, dos últimos oito gols marcados, quatro foram feitos a partir de transição ofensiva (Vasco (2), Atlético-GO e Cruzeiro).
Na fase ofensiva, como já foi mencionado, a progressão é o comportamento padrão. Com exceção do tiro de meta, preferencialmente saem jogando com os centrais; com Alessandro, o jogo fica simples e eficiente pela lateral; Paulinho procura um passe curto e ultrapassagens pela faixa central para criar condições de finalização; Alex e Danilo são os que têm condições (estrutura motriz) de fazer o passe final; William é o melhor do elenco no 1×1 e o pequeno Liedson é um gigante em posicionamento na zona de risco.
Como fatores limitantes para o processo ofensivo, observam-se a menor contribuição de Alex e Danilo quando atuam pelas faixas, a falta de amplitude dos meias abertos quando a equipe adversária bloqueia o corredor central e a recorrente falta de profundidade (e não de um centroavante) para aproximar a equipe da zona de risco e abrir espaço entre linhas das defesas adversárias. Em bolas paradas, Alex é quem pode marcar; em escanteios, Paulo André é a referência da finalização; já em situações de jogo, além de Paulinho e Alex com finalizações frontais, William pode marcar após driblar; Liedson, a partir de assistência/cruzamento e Danilo numa jogada aérea.
Já na transição defensiva, o comportamento observado é o de ataque à bola dos jogadores mais próximos, com simultânea recomposição dos demais em virtude de um posicionamento com ao menos nove atletas atrás da linha da bola. Falhas no balanço e coberturas defensivas resultaram em 37,5% dos gols sofridos nas últimas rodadas. Um comportamento que, sem dúvida, precisa ser melhorado.
Em pouco mais de um mês, o Campeão Brasileiro de 2011 será conhecido. Gosto de parabenizar os campeões, já o fiz com o Oscár Tabarez da seleção uruguaia e Ney Franco, da seleção brasileira sub-20. Desta vez, adianto os parabéns ao técnico Tite, que há um ano no cargo (muito para o futebol brasileiro) suportou a pressão após o péssimo início de ano na Libertadores e na queda de rendimento no Nacional. Parabenizo (mesmo que não seja campeão) não pela ideia de jogo que simplifiquei acima, mas pelas declarações, entrevistas, atitudes e liderança, inspiradoras para um técnico iniciante.
Abaixo, um pouco do Corinthians nos últimos oito jogos.
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br