Para que serve a tecnologia se nós, homens, somos medíocres? De que adianta a cura se nós, homens, germinamos os males?
Peço licença aos amigos leitores de toda a semana para, nesta terça, fazer um protesto e uma homenagem.
Escrevi diversos textos falando da tecnologia aplicada ao esporte, dos seus benefícios, dos cuidados e resistências, enfim, vários temas tendo como pano de fundo a tecnologia.
Em comum, a fala constante de que a tecnologia não é nada se o homem não a fizer funcionar, pois é ele quem a cria e é ele quem desfruta de todos os recursos desenvolvidos.
Quando preparava a coluna desta semana recebi a noticia do falecimento de um amigo, amigo que conheci pelo universo acadêmico. Foi meu aluno, orientando, companheiro do futebol semanal e, sobretudo, amigo. Em conversas mais recentes, planejávamos colocá-lo como colaborador neste espaço, tanto pelas ideias brilhantes, como pelo gosto e afinidade em relação a estudos acerca do tema “tecnologia”, seja na educação, seja no esporte.
Na noite de domingo, depois de mais um dia com amigos, voltava para casa em sua bicicleta, e foi atingido por um carro na contramão e supostamente com o motorista alcoolizado.
Você, amigo, pode pensar de novo, mais um caso, já que, infelizmente, tantos têm aparecido na mídia. Assim eu fiquei com as notícias similares de uma semana, de um mês, ou de um ano atrás, quando mencionam a morte de um ciclista por um motorista desqualificado. Porém, quantos mais precisarão sofrer com a perda de uma pessoa próxima para que levantemos protesto?
Eu esperei perder um conhecido para fazer o meu e me arrependo. Se com as noticias anteriores já tivesse começado a questionar, será que não conseguiríamos mobilizar pessoas com intuito de despertar atenção para o tema? Não sei, mas fica a dica: não espere acontecer com você.
A tecnologia constrói carros super poderosos, bicicletas modernas, capacetes super especiais, velocímetros, análise de performance, câmeras de controle de trânsito, radares com fotos dos carros infratores, banco de dados integrado pelo Brasil afora, enfim, a tecnologia está presente no trânsito brasileiro.
Mas a tecnologia depende dos homens, e aí que mora o problema: num país onde se consegue noticiar um acidente com 300 carros engavetados, 300 carros, alguém parou para pensar como isso acontece, senão pela imprudência e falta de responsabilidade? Onde ciclista é xingado nas ruas (que “bom” se ficasse apenas nisso), enfim, de nada adianta. Radar? Suspensão da carteira de motorista? Bafômetro? Podem até desenvolver um exame instantâneo de sangue. Adianta?
Talvez quando a tecnologia ganhar uma inteligência mais do que artificial, ela possa ensinar ética, moral, prudência e justiça aos homens. Porque enquanto nós humanos desenvolvermos os recursos tecnológicos, estes estarão aí, dependendo de algumas boas pessoas para fazer seu bom uso, porém, ainda em meio a tantas outras mediocridades das quais nossa espécie é capaz.
In memorian de Gualberto Rodrigues de Aráujo (07/03/89 – 23/10/11)
Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br