Estudo de caso: a análise do próximo adversário

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“O que possibilita ao soberano inteligente e seu comandante conquistar o inimigo e realizar façanhas fora do comum é a previsão, conhecimento que só pode ser adquirido através de homens que estejam a par de toda a movimentação do inimigo”
(Sun Tzu)
 

A leitura que você está fazendo neste momento sucede a primeira partida da semifinal do Campeonato Paulista de Futebol sub-20, entre São Paulo FC e Paulínia FC, no CFA Laudo Natel, em Cotia. Para saber o resultado do jogo (se já for segunda feira, 07/11, a partir das 14h00) clique aqui. Porém, para entender o contexto que antecedeu o confronto, além do provável comportamento de jogo do São Paulo FC, acompanhe as próximas linhas.

O Paulínia FC joga pelo empate na combinação das duas partidas. O treinador, Élio Sizenando, tem a missão de armar a equipe sem quatro jogadores titulares (um atleta recém-negociado, dois suspensos e um machucado). Destes, alguns já não atuaram nas quartas de final. Para se adequar às ausências, foram necessárias substituições com atletas do mesmo nível (algo possível quando a maioria do elenco tem ao menos cinco anos de clube) e variações estruturais do sistema para otimizar as características dos jogadores. Em 18 jogos, o desempenho do Paulínia FC foi de 75,9% com 12 vitórias, cinco empates e somente uma derrota.

O adversário, com desempenho de 66,7%, em 20 jogos venceu 12 vezes, empatou quatro e perdeu quatro. Comandados pelo técnico Sérgio Baresi, a equipe do São Paulo teve o seu último confronto analisado qualitativamente, registrado com fotos e, para complementar a análise da equipe, foi feita também a busca de vídeos de gols feitos e sofridos a fim de que se ampliem os dados obtidos.

Após as análises feitas, foi criado um relatório para a comissão técnica da equipe sub-20 do Paulínia FC que, com ele em mãos, organizou o microciclo de treinamento.

A partir de todos os dados coletados, a “previsão” (vide novamente a frase de Sun Tzu) que pode acarretar uma ocorrência fora do comum, ou seja, um time pequeno derrubar um grande em seu próprio território é a seguinte:

Planilha de Cartões e atletas em condição de jogo:


 

Como pode ser observado, todos os atletas do SPFC estão em condições disciplinares de jogo. Oito atletas estão pendurados, dos quais seis têm sido titulares com regularidade. Clinicamente, o goleiro titular Leonardo Navacchio pode não ter condições de jogo, pois foi substituído no intervalo da partida contra o Corinthians, segundo informações, lesionado.

Plataforma de jogo 1-4-4-2 (losango) e equipe:

 

Características individuais:

Richard – Protege bem o alvo, tem uma boa saída do gol e faz reposições predominantemente com as mãos. Pelas observações, não saiu jogando em tiros de meta.

Leonardo – Demonstrou menor leitura de jogo para interceptações de bolas aéreas. Quando exigido, fez boas defesas. Tentou sair jogando em tiros de meta, algumas vezes sem sucesso.

Lucas Mendes – Não jogou contra o Corinthians. Pelas imagens e informações conseguidas, apoia constantemente com cruzamentos perfeitos, porém, demora para ocupar seu setor defensivamente.

Marcelo – Fecha bem o corredor central, tenta sair jogando, mas não participa da manutenção da posse da equipe. Destaque para antecipação da ação e interceptações.

Luiz Paulo – O capitão da equipe. Destaque para o posicionamento e vantagem no 1×1 e, assim como seu companheiro, não faz parte da manutenção da posse.

Cleiton – Tem bom passe. Chega em profundidade pelas faixas laterais prioritariamente por passe e movimentação. Não conduz em velocidade. Ótima relação com a bola ofensiva.

Marcel – Defensivamente, tem função primordial na proteção da faixa central. No jogo em que foi observado, apoiou pouco o ataque, principalmente no segundo tempo. Muito eficiente no mecanismo desarme-passe.

João Felipe – O organizador ofensivo do São Paulo. Sempre de cabeça erguida, pensa o jogo para o melhor momento da assistência. Usa muito bem sua perna esquerda para os fundamentos ofensivos. Posiciona bem na fase defensiva da equipe.

Dener Gomes – Vindo do Depto. Profissional, jogou os últimos dois jogos. Com movimentações constantes, é um jogador difícil de ser neutralizado. Não cadencia o jogo, priorizando ações verticais. Finaliza muito bem de fora da área.

Régis – É o nono jogador a passar a linha da bola no momento defensivo e sai muito rapidamente na transição ofensiva. Canhoto e driblador, é quem desacelera o ataque da equipe. Por vezes, se não executou o passe-gol, aparece em diagonais para finalizar. Nas faixas laterais foi improdutivo.

Alfredo – É o artilheiro da competição com 16 gols. Há bastante tempo no São Paulo, e na função de atacante, lê muito bem o momento da penetração. Contra o Corinthians, teve três chances claras de gol (a partir desta ação tática) e falhou na definição. Muito bom em diagonais curtas e finalizações de primeira.

Bruno Cantanhede – Jogador de menor mobilidade da equipe do São Paulo. Ocupou a faixa lateral esquerda a maior parte do jogo. Em algumas situações apareceu bem posicionado na grande área em diagonais para finalização. Habilidoso, prende a bola excessivamente.

Síntese das características coletivas (somente do jogo contra o Corinthians):

Organização Defensiva – Demonstrou um comportamento predominante de recuperação da posse de bola orientado por uma marcação por setor e também individual por setor. A marcação se iniciava a partir da Linha 1 no primeiro tempo e a partir da Linha 3 no segundo tempo. Preferencialmente, tiveram nove jogadores atrás da linha da bola, com um rápido movimento de recomposição.

Devido ao bom posicionamento dos volantes e centrais, foi muito difícil atacá-los com toques curtos pelo meio. Destaque para as coberturas defensivas constantes (com exceção do goleiro) e distância entre linha de defensores e de meias. Como pontos vulneráveis da organização defensiva, o mau equilíbrio do lateral-esquerdo quando oposto à bola e o bloco defensivo distante quando a equipe adianta a marcação.

Plataforma de jogo e forma de marcação

Posicionamento no tiro de meta adversário

Distância entre linhas ao adiantar marcação

Transição Ofensiva – Com uma ocupação de espaço que gerava uma saída muito rápida do campo de defesa no primeiro tempo, tanto a partir de retirada vertical, como horizontal do setor de recuperação, este momento do jogo foi muito assertivo, principalmente por passes curtos. No segundo tempo, com uma postura mais defensiva e menos jogadores se posicionando à frente da linha da bola, a alternativa mais utilizada e não assertiva, foi o passe longo. Predominantemente, o balanço ofensivo foi feito co
m dois jogadores.


Balanço Ofensivo

Organização Ofensiva – O comportamento operacional predominante demonstrado pelo SPFC foi o de progressão ao gol, com alguns jogadores mantendo estruturas fixas (5, 6, 9 e 10) e outros, móveis (7 e 8).

Num ataque rápido combinaram movimentações, desmarcações e tabelas até regiões intermediárias, de onde partia um passe em profundidade para o número 9. Destaque para o alto número de situações de finalização e para a qualidade da troca de passes curtos. Como não mantêm a posse de bola, podem ter dificuldades ofensivas se tiverem as ações de penetração (9 e 10) e finalização (8, 9 e 11) bloqueadas.

O bloco ofensivo foi muito bem feito no primeiro tempo, com a equipe posicionada quase toda à frente do meio-campo, laterais em amplitude e frequentemente cinco jogadores à frente da linha da bola. No segundo tempo, com a já mencionada postura mais recuada, o bloco ofensivo distribuído organizadamente no campo de jogo praticamente não ocorreu, o que facilitava a distribuição de quatro jogadores no balanço ofensivo do oponente.
 

Predominância de campo efetivo de jogo no 2º tempo

Transição Defensiva – Para este momento do jogo, os comportamentos mais observados foram o de ataque à bola. Por vezes, o tempo para mudança de atitude ofensiva/transição defensiva de alguns jogadores era relativamente alto, o que facilitava a transição ofensiva do adversário. Os atletas que mais demoraram em cumprir estas ações foram Bruno (11) e Dener (8). Com o adversário em organização ofensiva, a ação de recomposição da equipe foi eficiente. Ainda sobre o ataque à bola, o mecanismo predominante foi individual e grupal, não coletivo.

Bolas Paradas Ofensivas – Em escanteios, as cobranças foram feitas abertas e a disposição da equipe do São Paulo está indicada na foto abaixo:

Primeira trave: nº 9
Segunda trave: nº 3
Meio da área: nº 11, 8 e 7
Rebote: 10

É importante mencionar que em jogos anteriores, os vídeos obtidos constatam cobranças fechadas.

Nas cobranças feitas não foram percebidas trocas de posições/jogadas ensaiadas e, em duas situações, o número 10 movimentou-se para uma jogada curta.

Em faltas laterais, alternância de cobranças abertas e fechadas com a mesma disposição numérica na grande área. Faltas frontais cobradas pelos jogadores Gabriel (2) e João Felipe (7).

Bolas Paradas Defensivas – A marcação da equipe são-paulina era feita de forma individual, com referências zonais na primeira trave conforme pode ser observado a seguir:

 

Forma de marcação em bolas paradas

Não dá para afirmar se o adversário tem todas estas informações a respeito do Paulínia FC, ou até mesmo, além destas. É fato que uma análise ainda mais completa poderia ser feita se o Paulínia FC dispusesse de mais jogos do São Paulo, ou então, se tivesse acompanhado mais jogos in loco. E ainda, um scout quantitativo também poderia ser feito para comprovar o Modelo de Jogo do SPFC juntamente com a análise qualitativa.

Enquanto encerro esta coluna, não tenho ideia de qual será o placar do embate. No entanto, na somatória de variáveis inter-relacionadas que compõem o sistema “jogo São Paulo x Paulínia” tenho certeza de que informações importantíssimas para o confronto foram adquiridas.

Que a vitória seja de quem melhor cumprir a Lógica do Jogo de futebol. Para cumpri-la, neutralizar diagonais e dribles de Régis, passes de João Felipe, penetrações e finalizações de Alfredo será indispensável. Indispensável também será tornar eficiente os pontos fortes da equipe perante o “delay” de transição defensiva do São Paulo, os espaços entre linhas quando adiantam a marcação e o mau equilíbrio defensivo em setores opostos à bola.

Para quem quiser observar os melhores momentos do último jogo do São Paulo, veja o vídeo abaixo:
 


 

Até a próxima semana.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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