Formação, o mercado europeu e a Bola de Ouro

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“A ambição do homem é tão grande que para satisfazer a uma vontade presente, ele não pensa no mal que dentro em breve daí pode resultar”

Henry Ford

 

Peço licença aos meus leitores para, nesta coluna, abordar um tema que foge um pouco do campo, mas que vejo como pertinente para nossa reflexão.

Há alguns meses venho ouvido falar sobre uma possível transferência de dois de nossos maiores craques na atualidade.

Em meio a um turbilhão de informações, alguns “especialistas da bola” alertaram sobre o fato de que outros atletas jovens saíram de nosso país como novos “Pelés” e não tiveram o mesmo sucesso lá fora.

Ouvi ainda que os jogadores obtêm destaque no Brasil, pois nosso futebol não tem um nível técnico tão elevado, fato que nos leva a um “complexo de vira lata moderno” e que o mundo inteiro vê isso, por isso que até este ano não tínhamos nenhum indicado entre os melhores jogadores do mundo ao prêmio Bola de Ouro da Fifa.

Fiz uma profunda reflexão sobre tudo isso que foi dito e gostaria de compartilhar com vocês minhas inquietações.

Primeiro, nosso jogadores passam de seis a oito anos nas categorias de base de nossos clubes. Nesse ambiente, os garotos são submetidos a inúmeras competições que reproduzem proporcionalmente as exigências do futebol profissional. Essa reprodução vai além das quatro linhas do campo e se expande para a organização, nível de cobrança, busca pelo êxito, etc.

Todo esse ambiente “forma” o jogador para atuar em nosso futebol.

Esse fato me fez pensar: como um jogador com 18 anos, que passa quase metade de sua vida na base dentro da cultura de nosso país, pode se adaptar rapidamente e obter êxito em uma cultura de futebol totalmente diferente em um país totalmente diferente?

O fato é que alguns se adaptam, sim! Mas como?

Pelo caráter continental de nosso país, temos em nossas bases jogadores de milhares de quilômetros, onde cada um deles pode ser de uma região do país, que tem seus próprios costumes, os quais são muitas vezes diferentes da cultura onde o clube tem sua sede. Muitos desses garotos têm que se “virar” longe da família e se adaptar muito cedo a uma nova realidade.

Esse fato pode ajudar nas transferências internacionais, mas é tudo?

Acredito que não!

Não tenho todas as respostas, mas acredito que devemos preparar nossos jogadores para entender o jogo de uma maneira complexa para além do modelo, de olho na parte esportiva. Já para prepará-lo para se adaptar a uma cultura totalmente diferente, é preciso um trabalho transdisciplinar, onde a vivência de outra cultura precisa existir, seja por intercâmbio, seja por oficinas, ou alguma outra estratégia (alguns clubes que tem por objetivo negociar jogadores com o exterior já fazem isso).

Outro ponto importante e que somos agentes é que nosso futebol precisa sair desse “complexo de vira lata” e assumir uma postura de vanguarda dentro do cenário mundial. Para isso não podemos apenas nos focar em trazer grandes jogadores, mas sim em buscar a excelência em todas as áreas, criando uma identidade forte e respeitada de nossos clubes lá fora!

Se fortalecermos nosso futebol, podemos ter um dia sete indicados entre os melhores jogadores do mundo à Bola de Ouro da Fifa, assim com a Espanha tem neste ano. Além disso, não ficaremos brigando tanto para manter nossos craques em nosso futebol.

Vejo nosso futebol com muita esperança e noto, dia a dia, que as coisas estão mudando, para melhor. Então, tenhamos paciência, que essa mudança não ocorrerá do dia para a noite.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 
 

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