O FC Barcelona atropela seus adversários – na Espanha, na Europa e no Japão – porque sabe jogar muito bem sem a bola em seus pés.
Esqueça a referência das estatísticas de TV que vinculam o êxito do clube à posse de bola.
Sim, é verdade, ela fica 70% do tempo nos pés dos jogadores da equipe a cada jogo.
Isso aumenta as chances de gols e vitórias, é verdade.
Mas ouso enxergar e defender o outro lado dessa percepção.
Já que o futebol é coletivo, penso que não é a soma dos poucos segundos em que a bola passa por todo jogador da equipe – que no fim do jogo se traduz em 60 minutos em 90 minutos jogados – que faz a diferença.
A diferença está na movimentação da equipe toda sem a bola, quando um dos seus jogadores está com a bola ou, até mesmo, quando ela está com o adversário e se faz pressão para lhe provocar o erro e recuperá-la.
Ainda mais pelo fato de que, hoje, quando muito, o jogador fica com a bola em sua posse por 2 minutos.
E nos outros 88 minutos?
A bola é o centro do carrossel catalão em torno do qual orbitam os muito bem entrosados jogadores.
Mas apenas um dele está com a bola.
Logo, o que fazem os demais?
Jogam sem ela. Procuram espaços livres. Pressionam a saída de jogo do adversário. Dão opção ofensiva e defensiva para os companheiros.
Até o goleiro já se acostumou a isso, ao ser acionado a jogar com os pés.
Diferenças históricas de estilo, o futebol brasileiro se acomodou em termos de evolução tática, assim como favorece o comodismo dos jogadores em jogar longe uns dos outros, com movimentação intensa, troca de passes, posse de bola e, acima de tudo, ocupação do campo todo sem a bola.
Nisso, Tostão, ídolo e comentarista, vaticina com o que concordo: já não existe mais jogador de meio-campo apenas defensivo ou apenas ofensivo.
Existe (deveria existir) jogador inteligente em sentido amplo, para exercitar essa nova maneira de se enxergar o jogo.
Se ainda não chegou ao Brasil, que iniciativas como a Footecon sirvam para discussão e propagação dessa linha evolutiva para o futebol no Brasil.
A conquista do bicampeonato mundial do Barça sobre o Santos prova que o bom futebol é um esporte solidário e coletivo, de muita movimentação.
Sem a bola.
Futebol operário, sem show. Com efeito, esse é o próprio show dado pelo Barcelona.
Mesmo porque o jogo se joga com uma bola para 22 jogadores.
Não uma para cada um dos jogadores.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br