Aproveitando o merecido descanso de fim de ano, tive a oportunidade de conhecer as lojas oficiais da NBA, da NHL e da NFL. Assisti, tambem, à uma partida da NBA e estive no Madison Square Garden para um jogo de hóquei. Nestas situações, percebi o quanto temos que aprender quanto ao tratamento do esporte como um negócio. Essas experiências serão detalhadas na próxima coluna.
Nesta oportunidade, gostaria de retornar em um ponto que já tenho mencionado em palestras e em artigos. Trata-se do investimento no torcedor como um negócio.
Destarte, o futebol movimenta milhões, criando outros tantos empregos e transformando todos habitantes e adeptos do planeta em potenciais consumidores. O adepto de futebol tem direitos que devem ser respeitados, sobretudo levando em consideração que o futebol deve sua magnitude às imensas multidões. Desta forma, os clubes, tendo em vista um investimento futuro, devem adequar as suas estruturas e iniciativas aos anseios e necessidades dos adeptos.
A criação de excelentes condições para os torcedores traz resultados financeiros e desportivos, como se constata nas inúmeras iniciativas da “Premier League” inglesa, do Barcelona e, no Brasil, do Internacional. O adepto, cada vez mais exigente, irracional e apaixonado, capaz de distorcer a realidade pelo seu clube, deve ser tratado como protagonista.
Os cinco principais direitos do adepto como investimento futuro:
[1] As competições devem possuir regulamentos transparentes e critérios técnicos, bem como arbitragem justa e independente.
[2] Os bilhetes devem ser vendidos de forma organizada, sendo garantida a celeridade, eficiência e segurança na venda. A mesma deve ser feita em diversos locais e por diversos meios (ex. internet).
[3] Os estádios devem ser acessíveis por transportes públicos, devendo possuir como infraestrutura: estacionamento, restaurantes, WCs, etc. Tudo, com acessos amplos, facilitando a entrada dos adeptos, além de assegurar acessibilidade aos deficientes.
[4] O torcedor tem direito de receber informações claras por recepcionistas, ou funcionários do clube, bem como o direito de acomodar-se num assento confortável e numerado. A numeração deve corresponder à do ingresso.
[5] Finalmente, a segurança deve ser garantida no interior e exterior dos estádios. A mesma deve estar presente durante, antes e após as partidas, com policiamento visível, monitorização por câmaras e limitação do acesso a adeptos sem ingresso.
Estas medidas trarão, além de benefícios aos torcedores, uma fidelidade ao clube, aos eventos e aos seus participantes. Adeptos bem tratados são sinônimo de estádios e cofres cheios, independentemente dos resultados desportivos, da venda de bilhetes, de direitos de TV, ou de produtos licenciados. Percebe-se o resultado do respeito aos direitos do adepto pelas receitas da “Premier League” inglesa, a terceira mais rentável do mundo (atrás das norte-americanas MLB – Beisebol – e NFL – futebol americano).
Os jogos da Liga Inglesa têm em média uma ocupação de 91%, independentemente da classificação do clube, e em alguns casos, como o Manchester United, 100%. Esta fidelidade coloca nove clubes ingleses entre os 25 mais ricos do mundo, dois entre os 10 mais valiosos nas diversas modalidades e três entre os seis com maiores patrocínios.
O respeito pelos adeptos conduz ao resultado desportivo, como se apreende de exemplos como o Barcelona, que é o atual campeão do Espanhol, da Copa e da Supercopa da Espanha, da Uefa Champions League e do Mundial de Clubes; e o Internacional, que conquistou a Libertadores da América e o Mundial de Clubes em 2006, a Copa Sul-Americana em 2007, tendo sido, em 2009, vice-campeão Brasileiro e da Copa do Brasil.
Assim, mais do que atender aos direitos da imensa comunidade de adeptos, a atenção aos seus anseios corresponde a um investimento com retorno financeiro, de visibilidade e em títulos.
Os Estados Unidos mostram, como ninguém, a forma de se organizar um evento esportivo, com atenção ao público e com retorno milionário e vitorioso exteriorizado pela valorização do seu desporto e, também, pelo imenso número de medalhas olímpicas e títulos mundiais.
Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br