A gestão (tática-técnica-física-mental) do ritmo de jogo

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Para produzir a coluna semanal levo em consideração diversos fatores. As sessões de treino e jogos da equipe que trabalho; as conversas informais que tenho com profissionais do futebol; as trocas de e-mails com os leitores que me instigam, sugerem ou permitem o surgimento de ideias; as leituras, científicas ou não, direta ou indiretamente relacionadas ao futebol e a até o acompanhamento de mesas redondas, entre outros programas televisivos, que discutem a modalidade.

Em relação ao último item, os comentários referentes ao baixo desempenho de jogo apresentado pelas equipes do estado de São Paulo na rodada do fim de semana (04 e 05/02) me despertaram para esta publicação. Para muitos, o motivo do baixo desempenho “técnico” deveu-se ao fato do forte calor no momento em que ocorreram as partidas, o que gerou sensível aumento do desgaste “físico”.

Seguramente o forte calor (de fato, muito forte!) influenciou na manutenção da intensidade de jogo apresentada pelas equipes, porém, defini-lo como o único responsável pela diminuição da performance significa reduzir a função tático-estratégica do treinador, que deve considerar a influência de fatores externos, como o clima, ao preparar seus jogadores para o jogo.

Basicamente, existem duas maneiras da equipe “correr menos”, logo, ter um menor desgaste “físico” no jogo.

Para a primeira, defensivamente, a equipe deve baixar o bloco e estar orientada operacionalmente à proteção do alvo. Além de uma boa organização defensiva zonal que neutralize as ações ofensivas do adversário, será necessário um sistema de transição ofensiva vertical em que poucos jogadores se ofereçam à frente da linha da bola. O jogo praticado ofensivamente será sempre em inferioridade numérica e a Lógica do Jogo pode ficar mais distante de ser cumprida. Opção questionável! Especialmente para grandes equipes, ainda mais se sofrerem um gol durante o confronto.

Outra possibilidade de conseguir “correr menos” está relacionada ao descansar com bola, terminologia utilizada por alguns estudiosos do futebol que se refere à posse pela posse.

A posse pela posse, utilizada quando a ação ofensiva aparentemente não está orientada para busca do alvo oponente, pode ser feita em duas situações: quando a equipe está cumprindo a Lógica do Jogo e momentaneamente não precisa fazer gol para vencê-lo, ou então, quando precisa se recuperar devido à fadiga originária por motivos diversos (situações de jogo em que estava perdendo, “correu mais” e virou o placar, menos jogadores devido à expulsão, modelo de jogo que privilegia alta intensidade, o próprio clima, minutos finais do jogo, falhas coletivas que levaram a sucessivas perdas da posse e ineficientes recuperações, etc.).

Para aplicar este mecanismo, a ideia de jogo do treinador não necessariamente deve privilegiar a recuperação imediata da posse, porém, é bom considerar o fato de que para recuperações imediatas e, consequentemente, mais próximas do alvo oponente, mais perto sua equipe estará do cumprimento da lógica do jogo (se o comportamento coletivo assim estiver orientado, é claro).

Já para a organização ofensiva, ampliação do espaço efetivo de jogo, apoios constantes, participação do goleiro neste momento do jogo, coberturas ofensivas, decisão pelo passe à jogada individual, ocupação de espaços vazios e mobilidade serão competências necessárias para se tornar possível descansar com a bola.

Caso uma equipe domine estas competências, terá habilidades suficientes para a aquisição de mais uma: a gestão do ritmo ou rotação de jogo.

Gerir eficazmente o ritmo do jogo significa comandar a velocidade e intensidade do jogo. Para tornar esta ação ofensiva (afinal depende fundamentalmente da posse da bola) um comportamento coletivo, habituar os jogadores aos “como” e “quando” de sua utilização são pré-requisitos para se beneficiar do referido mecanismo.

Então, se no Modelo de Jogo da equipe a posse pela posse é um dos princípios que se deseja construir (torná-lo hábito), qual o melhor ambiente/contexto para fazê-lo? Releia o subtítulo da coluna.

Volto a mente para os jogos daquele fim de semana e me questiono quanto aos treinamentos realizados na pré-temporada e primeiras semanas do ciclo competitivo por cada uma das equipes. Desconheço as práticas integralmente realizadas na grande maioria dos clubes e me limito às informações publicadas pela mídia em relação à importância do treinamento físico neste período do ano, além das conversas com companheiros de profissão e atletas espalhados pelos clubes de São Paulo.

Afirmo, no entanto, que pelos jogos apresentados a gestão eficaz do ritmo do jogo não foi observada. Caso tivesse sido, aquelas habilidades anteriormente mencionadas estariam evidenciadas. Questione (e justifique) caso discorde!

Por fim, idealizo situações de treino em que a equipe com determinada vantagem no placar tenha objetivos diferentes no jogo (descansar com a bola) daquela que está em desvantagem. Em outras situações, a criação de jogos com regras que aumentem o ritmo (intensidade) do jogo. Um Modelo de Jogo que alterna rotações tem valor agregado para manter a ordem no grande ambiente de desordem que é um jogo de futebol.

Baixar o ritmo pode ser um princípio importante para adquirir/manter/conseguir vantagem perante aos adversários. Para fazê-lo (nos “como” e “quando”), serão necessários jogadores que dominem tais regras de ação impostas pelas ideias do treinador. Questiono-me se os atletas profissionais, já formados e em maestria esportiva, dominarão tais regras de ação se treinarem em caixas de areia, em volta do campo, em circuitos, com trações, em salas de musculação, ou então, em quaisquer outros treinos que não jogos que tornem propensos os comportamentos desejados. Acho que já conhecem a minha resposta!

Obs: Não pensem que desconsidero o físico. Desconsidero-o isoladamente! Não deixe de acompanhar as próximas colunas que, em breve, tratarão deste tema!

Para interagir com o colunista: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso