Não adianta culpar a Fifa pelos custos dos estádios

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A Fifa, por meio de recomendações e exigências, coordena a organização do evento, bem como a construção dos estádios. Nos manuais entregues, partes são obrigatórias, partes são sugestivas, como a questão de sustentabilidade, por exemplo, recomendando que as cidades se preocupem com os destinos de lixos, embalagens, gastos energéticos, entre outros tópicos.

Até o estádio estar próximo à conclusão, a Fifa fica livre para fazer as sugestões e exigências que convierem e que possam fazer um evento melhor e mais saudável, desde que não interfira em algo já construído. No entanto, casos como a nova exigência de drenagem a vácuo podem, sim, ser contestados com argumentos financeiros e de viabilidade – falta de mão de obra adequada e o custo da mesma pode pesar, mas pode até mesmo desenvolver o setor, barateando o custo no país.

Índices pluviométricos podem ser argumentos válidos para contestar a possível exigência, o que, em Londres, por exemplo, seria difícil reverter. Não é impossível reverter a situação.

A Fifa não é incontestável, mas uma vez que o Brasil pediu para sediar o evento, é bom entender os motivos da entidade, desde que o país não tenha prejuízos enormes e custos posteriores injustificáveis. Os manuais da entidade são exigências gerais para seus eventos, não específicas para o Brasil, e vão aumentando a cada Copa, somando experiências positivas e negativas que cada sede teve.

No entanto, culpar a Fifa por custos extras nos estádios, não é o caminho. Claro que para o evento existe a necessidade de setores de hospitalidade, de camarotes e centros de mídia gigantescos que não são necessários em eventos menores, mas os benefícios que o país pode tirar com isso compensam e são espaços nos estádios (internos e externos) que podem ser convertidos para áreas e programas de atividades adequados para o período pós-Mundial.

Trata-se de um plano organizacional brasileiro, visando seus próprios interesses baseados nos trunfos do evento e nas suas limitações temporárias. Não se tratam de partes desmontáveis, como um dos nossos estádios propõe, mas de um programa de continuidade do projeto. Por exemplo, após o evento, saem camarotes (com mobiliário possivelmente alugado) e entram continuidade das arquibancadas, não redução de público, ou mudança de usos, pois é atitude errônea.

Basta ter um plano de projeto, visando usos de que a região precisa, que a população sente falta ou em acertar a fonte de renda que vai, de fato, sustentar o estádio e aumentar lucros e visibilidade dos clubes.

A Fifa não vai providenciar regras e sugestões para o lucro do Brasil, mas para a qualidade do evento Copa do Mundo. É aí que o Brasil não está se entendendo. As preocupações parecem estar voltadas somente para os custos e execução das “temíveis e absurdas” exigências. Deveriam, no entanto, ter dois comitês: o Comitê de Organização Local (COL) e um brasileiro, sem vínculo direto com a Fifa – pois nem é de interesse deles –, mas com poder de conversa e possível negociação, mesmo que através do COL, e que este comitê brasileiro seja responsável por criar estratégias para o país em geral e específicos para as cidades-sedes.

Poderia ter uma composição feita por diferentes áreas: empresários, comerciantes, turismólogos, arquitetos, urbanistas, etc., abrangendo, assim, todos os ramos.

O Brasil pode lucrar com cultura, restaurantes, hotéis, turismo em geral e comércio. Poderia ter este órgão com campanhas de marketing, criando atividades, slogans, que trabalhassem o Brasil como um todo, visando à captação de verba para o país com a Copa do Mundo. A Alemanha visava, com a Copa de 2006, mudar a imagem do cidadão carrancudo, mostrando que o povo pode ser amigo, carismático e hospitaleiro. Conseguiram reverter um pouco da imagem da Alemanha de Hitler. O Brasil tinha o intuito de valorizar a Copa Verde, mas isso não está nítido ainda, e pode não agrupar todos os setores que podem lucrar. A principal imagem ainda não é forte o suficiente. Há a necessidade de pensar nisso, e estamos perdendo o tempo útil.

Além de ser errado culpar a Fifa, é também uma desculpa, jogando a culpa enquanto não se olha para o próprio umbigo. Para um país que está reclamando de custos elevados dos estádios, nossas arenas deveriam, no mínimo, ter em seus projetos técnicas e materiais para palcos econômicos. Mas não: temos propostas com vidros e vidros espelhados que, no caso do Brasil, só trazem gastos com refrigeração. Temos banheiros climatizados que, embora possam trazer benefícios à segurança e diminuição de violência, ainda não preveem fontes de energia natural, ou seja, elevando os custos também.

E nada disso é exigência da Fifa, mas opção de projeto – culpa de arquitetos mal preparados e especializados ou dos comitês locais e clubes (clientes), que enxergam somente em curto prazo, ou até mesmo, culpa de corrupção e licitações duvidosas que privilegiam interesses de organizadores.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 

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